09 agosto 2021

OPERAÇÃO DEMETRIUS

9 de Agosto de 1971. Logo pela manhã, equipas de polícias norte-irlandeses da RUC e sobretudo de soldados britânicos, que haviam sido previamente destacados para o Ulster para controlarem a violência local entre as comunidades protestante e católica, começaram a prender sem culpa formada os quadros das duas alas do IRA (Oficial e Provisória). No final dos dois dias que a denominada operação Demetrius irá durar, serão presas 342 pessoas. Politicamente, a operação revelar-se-á um desastre total, mas o impacto a curto prazo será ainda pior: 17 pessoas serão mortas logo nessas primeiras 48 horas, das quais 11 serão civis católicos (incluindo um padre), todos mortos por soldados britânicos num bairro de Belfast, num episódio que veio a ficar conhecido por massacre de Ballymurphy. A operação havia sido desencadeada pelo governo da Irlanda do Norte e era de uma parcialidade escandalosa, como se percebe, de resto, pela redacção da notícia acima. Nela, depreende-se que a responsabilidade pela escalada da violência no Ulster era toda imputada às organizações radicais católicas (as duas alas do IRA). Em concreto, todos os 342 detidos eram católicos, a grande maioria deles do IRA Oficial. 110 (a maioria do IRA Provisório, mais radical) haviam escapado às equipas de detenção. E 105 dos detidos foi libertada dois dias depois. As repercussões políticas foram menos sangrentas, mas de consequências mais graves: a comunidade católica da Irlanda do Norte, que sempre depositara uma confiança muito mitigada nas instituições políticas da província (dominadas pelos protestantes - por exemplo, a RUC era composta por 88% de protestantes e 8% de católicos, quando a proporção da população é de 55%-45%), perdeu desde aí a confiança na neutralidade do governo de Londres (nomeadamente por causa do comportamento dos seus militares). Os primeiros detidos do lado protestante só vieram a sê-lo daí por ano e meio (Fevereiro de 1973) e, quando se faz o balanço final do número de detidos nestas circunstâncias desencadeadas pela operação Demetrius, o resultado também é revelador: dos 1.981 só 107 eram unionistas protestantes (5,4%). Quanto aos resultados, um bom indicador poderá ser o número de vítimas mortais no Ulster: no ano anterior (1970) houvera 26; aquele ano de 1971 irá terminar com 171 (quase 7x mais); no ano seguinte (1972) o número de vítimas mortais quase triplicará para as 476. Tomando o número de vítimas como um barómetro da instabilidade política vivida na província, aqueles números são eloquentes quanto à avaliação dos resultados que se pode fazer a esta distância da operação Demetrius.

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