25 de Agosto de 1961. Jânio Quadros, o presidente do Brasil, renúncia ao cargo, sete meses apenas depois de ter tomado posse. «Ao Congresso Nacional. Nesta data, e por este instrumento, deixando com o Ministro da Justiça, as razões de meu a(c)to, renuncio ao mandato de Presidente da República. Brasília, 25-8-61.» lê-se na missiva, complementada pela carta contendo as razões da decisão. A razão imediata estaria associada às reacções críticas da ala político-militar do regime a uma condecoração que Jânio Quadros conferira a Ernesto «Che» Guevara no dia 19 (acima). Mas esse eram apenas os aspectos folclóricos da luta política doméstica. Na verdade, Jânio Quadros - que se celebrizara durante a campanha eleitoral por empunhar uma vassoura para varrer a corrupção - quando no cargo presidencial depressa atingira um impasse diante dos poderes que domina(va)m o Brasil. Jânio Quadros era uma excrescência na política tradicional brasileira: não era fotogénico, nem simpático, não fazia parte de um dos tradicionais clãs brasileiros, não tivera padrinhos, não era dono de jornal, não estava associado a um grupo económico, não era particularmente bem quisto entre os americanos, nem entre os soviéticos. E sobretudo parecia, naquela época, incorruptível. Talvez por isso vencera as eleições presidenciais com uma vantagem de 15% sobre o opositor. Embora, naquele sistema presidencialista, decalcado do norte-americano, isso depois pudesse não se concretizar em nada de substantivo quanto à capacidade executiva. Terá sido o sentimento de impotência que levou Jânio Quadros a decidir-se a renunciar. Ou então há quem especule que se tratou de uma manobra política que lhe correu mal. De qualquer maneira, o efeito foi o de uma bomba! Como acontece nestes casos - estou-me a lembrar da renúncia em Portugal do presidente Manuel Teixeira Gomes em 1925 ou a de Charles de Gaulle em França em 1969 - tanto a cobertura noticiosa imediata do acontecimento, como depois as resenhas históricas que se escrevem a esse respeito, nunca conseguem lidar de forma confortável com a decisão do(s) protagonista(s). As regras do jogo desejam-se tão claras que alguém que mostra desapego ao poder é como uma nota desafinada na narrativa melódica.
Sem comentários:
Enviar um comentário