15 de Agosto de 1971. Outro Domingo. Aproveitando o facto de se estar num fim de semana e no meio das tradicionais férias de Agosto, o presidente Richard Nixon anuncia pela televisão um conjunto de medidas de cariz económico, mas sobretudo financeiro, visando o reequilíbrio das contas externas dos Estados Unidos e a dinamização da sua economia: um congelamento de preços e salários por um período de três meses, a adopção de uma sobretaxa de 10% sobre as importações e, sobretudo, o abandono da indexação do dólar ao ouro, que fora um dos esteios das regras de comércio internacional entre as economias capitalistas desde os acordos de Bretton Woods de Julho de 1944. Na verdade, 27 anos passados, o sistema concebido em Bretton Woods já estaria a caducar: em Maio daquele ano, a Alemanha Federal abandonara-o, e em princípio de Agosto acontecera o mesmo com a Suíça. Só que a saída dos Estados Unidos - anunciada por Nixon naquele serão de Domingo como uma suspensão - tinha como consequência desfazer o sistema. A acrescer às repercussões financeiras (já que os Estados Unidos queriam forçar as economias dependentes a desvalorizarem também as suas moedas) havia as repercussões políticas, já que a decisão de Nixon fora tomada em segredo, sem qualquer consulta aos seus aliados. Por uma vez, lembro-me de quanto aquela tradicional placidez noticiosa do mês de Agosto foi profundamente perturbada pelas consequências de uma decisão por uma vez verdadeiramente importante (e, ao mesmo tempo, complicada de explicar à opinião pública interessada). As manchetes das edições da semana que se seguirá àquele anúncio vão ser grandes e, para não se pensar agora que tudo foi sempre um mar de rosas nas relações transatlânticas durante esses anos, relembre-se por alguns dos cabeçalhos abaixo a reacção negativa dos europeus à iniciativa norte-americana. A diferença para a actualidade era que Richard Nixon, mesmo que não merecesse (e isso então ainda não se sabia...), era respeitado.
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