7 de Agosto de 1946. A notícia de jornal dava conta de uma súmula das contas oficiais do comércio externo português para o ano de 1945, que fora o último ano da Segunda Guerra Mundial, contas essas devidamente apuradas pelo INE (Instituto Nacional de Estatística). Como destaque, Portugal registara um défice na balança comercial, como aliás sempre fora tradicional, com excepção de dois anos durante o conflito que agora terminara. Mas a notícia era uma confusão, misturando os volumes e os pesos das mercadorias transaccionadas com o seu valor, o terceiro parágrafo tornava-se perfeitamente ininteligível para os leitores e foi por isso que o transpus (em valores) para o quadro abaixo, onde, da sua leitura, se podem extrair conclusões assaz interessantes.
Realce-se que os padrões do comércio externo mundial (e portugueses) se encontravam em 1945 profundamente alterados pelas circunstâncias da guerra. Alterados não apenas em questão de tipologia das mercadorias, como do valor das transacções, como ainda dos canais de circulação. Neste último caso, e para dar dois exemplos retirados do quadro acima, o aparecimento da Suíça (SWI) e da Suécia (SWE) como parceiros comerciais importantes de Portugal, só se explica pelo facto de qualquer daqueles dois países serem dos poucos países que haviam conseguido permanecer neutrais ao longo do conflito. Muito do comércio externo intra-europeu era canalizado através deles. Contudo, e pela mesma lógica e porque também era um país neutral, é de estranhar a posição relativamente modesta da Espanha (ESP) no mesmo quadro. A Espanha é hoje o maior parceiro comercial português, mas há 75 anos, e por muito que fosse a nossa vizinha, aparecia atrás da Argentina (ARG), situada na América do Sul! Por ter mencionado a América do Sul, e falando de ausência significativas, também vale a pena referir que o Brasil não aparece nesta lista como grande parceiro comercial de Portugal. Mas, concentrando-nos no principal, naquelas circunstâncias excepcionais, a lista é naturalmente encabeçada de forma destacada pelas duas potências marítimas, Grã-Bretanha (GBR) e Estados Unidos (USA), em conjunto elas representaram quase metade do nosso comércio externo e a primeira das quais revela-se até mais importante do que todo o império colonial português no seu conjunto.
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