18 de Agosto de 1931. Num episódio que podemos classificar de precursor da imprensa «cor de rosa» (só que ainda a preto e branco...), o Diário de Lisboa dá notícia da visita a Portugal do duque de Westminster, pessoa discreta (naturalmente...), cuja presença os jornalistas publicitavam apenas para «satisfazer a justificada curiosidade dos (...) leitores» (também naturalmente...). Na verdade, mais do que provavelmente, os leitores não fariam a mínima ideia de quem se tratava. O titular era riquíssimo, mas o título era, para os padrões aristocráticos, bastante recente, fora criado apenas em 1874, durante o reinado da rainha Vitória. A grandeza do título (duque - foi o último título de duque a ser criado sem ser atribuído a um familiar próximo do monarca) dever-se-á à dimensão da fortuna do nobilitado, uma fortuna que se fizera com origem no imobiliário, por causa do crescimento da cidade de Londres ao longo do século XIX. Essa era a origem do título e do dinheiro, uma das maiores fortunas da época em 1931. Quanto ao titular a que se referia a notícia, Hugh Grosvenor, tinha então 52 anos, e esta passagem pelo nosso país inseria-se na «lua de mel» do seu terceiro casamento. A noiva, Loelia Linsay, tinha 29 anos, menos 23 do que o noivo. Aliás, o noivo tinha uma filha dessa mesma idade. Mas a atribulada vida amorosa do duque, que incluía uma muito publicitada relação com a costureira francesa Coco Chanel durante os anos 20, era apenas o aspecto mais superficial da sua pessoa. O outro eram as suas inclinações políticas de extrema direita e o seu anti-semitismo, que neste princípio de década de 1930 ainda não se tinham evidenciado em todo o seu esplendor. No entanto, por esta época, já dera um ar da sua graça, expondo publicamente a homossexualidade de um seu cunhado e rival político, com quem ele antipatizava particularmente. O duque era uma personagem fascinante, como (não) se pode perceber pela notícia de há 90 anos...
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