Hoje é o 40º aniversário de um dia histórico das lutas laborais. E o facto de a ninguém lhe apetecer celebrá-lo não lhe retira a importância histórica. Mas será melhor contar a história desse dia, que é de poucos conhecida. Em 1981, o PATCO (de que se vê o logotipo acima) era o sindicato dos controladores aéreos nos Estados Unidos. Sendo um sindicato recente (fora fundado apenas em 1968) tornara-se um dos sindicatos mais poderosos do país, devido à especificidade das funções dos seus associados: não era tarefa fácil substitui-los em caso de greve. E isso dava-lhes um grande poder reivindicativo. O problema era que o seu empregador era o governo federal. Mas seria por isso também que a direcção do sindicato tinha uma certa sensibilidade política. Conjuntamente com outros sindicatos de referência, como o dos camionistas (Teamsters) ou o dos pilotos de linha aérea (ALPA), nas eleições presidenciais de 1980 o PATCO renunciara a endossar a recandidatura do presidente democrata Jimmy Carter para apoiar o candidato republicano Ronald Reagan. Os acontecimentos subsequentes que aqui iremos contar mostrará a ironia da decisão. Se os controladores aéreos estavam a contar com uma benignidade de tratamento da nova administração norte-americana enganara-se redondamente. Depois de meses de um arrastado processo negocial, o PATCO resolveu declarar greve em 3 de Agosto de 1981. Os objectivos eram melhores condições de trabalho e de remuneração e por uma semana de trabalho de 32 horas. As consequências da greve seriam a paralisia total do tráfego áereo sobre os Estados Unidos pelo período da greve (à época haveria quase um milhão de passageiros por dia). O gesto não apanhou a administração Reagan/entidade patronal de surpresa. Nesse mesmo dia, Ronald Reagan reagiu num discurso (abaixo, uma versão editada de 3 minutos), fazendo um ultimato aos grevistas para desconvocarem a greve em 48 horas. Diga-se em complemento que os grevistas estavam para lá do risco da legalidade, eles contavam é com os problemas políticos e operacionais que uma decisão musculada por parte de Ronald Reagan poderia acarretar. Só uma minoria (1.300 em 13.000) terá acatado a ordem de retomar o trabalho. E é assim que a 5 de Agosto de 1981, há precisamente 40 anos, Reagan despediu de uma penada 11.345 controladores aéreos que haviam desobedecido às ordens de retomar o trabalho. Os controladores foram substituídos por operadores militares. Mais do que isso, e mostrando o carácter exemplar que se pretendia dar ao castigo, os despedidos foram banidos de voltar a trabalhar para a administração federal para sempre (esta última decisão só veio a ser revogada doze anos depois por Bill Clinton, o primeiro presidente democrata depois dos acontecimentos). Quanto ao processo de substituição dos despedidos, mesmo que complexo, ele decorreu de uma forma mais suave do que seria antecipado, demonstrando que a coacção nos conflitos laborais também pode ser sobretudo psicológica. Os controladores aéreos norte-americanos são agora representados por um outro sindicato (NATCA), fundado em 1987. Este dia, não sendo um dia feliz (a não ser para as entidades patronais), não deixa por isso de ser um dia historicamente importante, assinalando o fim de um ciclo de crescimento dos direitos dos trabalhadores no Ocidente que começara depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Repare-se que os grevistas se batiam por uma semana de trabalho de 32 horas! Embora vários indicadores já o demonstrassem na acentuação das assimetrias da distribuição da riqueza, depois daí e de um ponto de vista simbólico, iniciou-se um outro ciclo, que ainda se parece manter, em que a tendência tem sido precisamente a inversa, quase sempre em desfavor do factor trabalho e em prol do factor capital. Por muito que a CGTP por cá convoque greves gerais. Se esse ciclo durar o mesmo que o anterior, então a sua viragem deve estar para acontecer ao longo dos próximos anos. Se há coisa que a História nos ensinou é que, nestas dinâmicas sociais, nada dura para sempre.
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