19 agosto 2021

«O MAIOR EMBARAÇO» DA HISTÓRIA DOS ESTADOS UNIDOS

É preciso dar tempo ao tempo - ou seja, adquirir distanciamento histórico - para se poderem produzir afirmações substanciadas sobre aquilo que poderá ou não constituir «"o maior embaraço" (d)a história dos Estados Unidos». Há um ditado popular que se aplica perfeitamente à afirmação acima: o que Trump diz não se escreve (e não se devia escrever, mesmo!). O distanciamento histórico tem a virtude de fazer esquecer estes disparates que se publicam. Se a analogia da queda de Cabul em 2021 com a de Saigão em 1975, que está a ser tão citada, servir de referência para mais qualquer coisa, constate-se que as avaliações que se fazem ao fim de todos estes anos a respeito da conduta do presidente Gerald Ford não o criticam particularmente pela queda do Vietname do Sul. No calor da refrega política, sim, vejam-se os sublinhados da notícia da época abaixo, mas depois disso não. Afinal, Gerald Ford ocupava o cargo há apenas oito meses e meio quando Saigão caiu, e o problema vietnamita começara muito antes. Quando ele chegou à Casa Branca já não havia nada a fazer. Outro facto é que Joe Biden é presidente há sete meses. E quando ele lá chegou também já não haveria grande coisa a fazer a respeito do Afeganistão. O que havia a fazer fora feito sob a égide do antecessor que, por sinal, se chamou... Donald Trump. A política americana da actualidade mudou muito desde 1975, a opinião publicada e pública e, consequentemente, os seus representantes, já não se parecem chocar tanto por terem um «escroque» na Casa Branca. Esta última constatação é que é capaz, concedendo-lhe o devido distanciamento histórico, de se vir a tornar «o maior embaraço da história dos Estados Unidos»: como é que o sistema político americano conseguiu levar a sufrágio uma mediocridade como Donald Trump?! E como é que os americanos o elegeram?! E como é que os seus representantes não o sancionaram?!

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