Afinal, há que reconhecer que não é apenas Vladimir Putin a poder ter o exclusivo do descaramento de designar por «Operação Militar Especial» todas as movimentações militares que lhe apetecer. Prigozhin também pode... Embora eu, se fosse a este, passasse a ter cuidado em andar distante das janelas a partir de agora, não lhe fosse dar vertigens numa má altura...
30 junho 2023
PARA ONDE EVOLUIU A POLÍTICA NOS ESTADOS UNIDOS
Tem vezes em que a leitura do título de uma pequena notícia de outrora desencadeia-nos um flash que sintetiza tudo aquilo que uma parte dos comentadores se afadiga em recordar, com pouco sucesso. É o caso desta notícia de 30 de Junho de 1973 que, com algum exagero, pretende retratar o estado de espírito dos republicanos à medida que se sabiam mais e mais pormenores sobre o caso Watergate, pormenores que enredavam cada vez mais o presidente Richard Nixon. Os republicanos, ou, pelo menos, a sua liderança, não estariam «aterrados» como se escreve na notícia, mas o seu incómodo era crescente, à medida que as revelações traçavam um retrato cada vez menos lisonjeiro (para não dizer mais...) do ocupante da Casa Branca. Reconheça-se que o Caso Watergate criou uma cultura obsessiva dos gates, o sufixo aplicado a qualquer escândalo noticiado, independentemente da sua relevância e importância. E que, por causa dessa banalização os poderes estabelecidos aprenderam a criar uma blindagem contra pedidos de demissão por dá cá aquela palha. Só que agora atingimos um extremo absurdo em que nada na conduta dos responsáveis é condenável, porque esse reconhecimento poderá prejudicar o prestígio da organização de que faz parte. Se em 1973 eles não estavam aterrados, os republicanos de 2023 também não podem fingir passar por tranquilos, pretendendo que tudo aquilo que se tem vindo acumulativamente a saber sobre Donald Trump não lhes irá afectar o prestígio.
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O DECRETO QUE ESTARÁ NA ORIGEM DO 25 DE ABRIL
30 de Junho de 1973. Numa alocução proferida a propósito do encerramento oficial do ano lectivo na Academia Militar, o ministro da Defesa Nacional, Sá Viana Rebelo, anuncia a intenção de promover um conjunto de medidas para aliciar mais quadros para o exército. Uma dessas medidas é a de cativar os oficiais milicianos para que se transfiram para o quadro permanente depois da frequência de um curso de dois semestres na Academia Militar, «com valor idêntico aos cursos normais e sem perda da sua antiguidade de origem». Da contestação a esta iniciativa por parte dos oficiais do quadro permanente irá nascer o movimento dos capitães que dará posteriormente origem ao MFA e ao 25 de Abril.
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29 junho 2023
O CRUZEIRO DA CAGANEIRA
A 29 de Junho de 1973, um despacho da UPI informava o mundo que o navio de cruzeiros Skyward (acima) interrompera o seu cruzeiro previsto para aportar em várias ilhas das Caraíbas para se dirigir a todo o vapor para o seu porto de origem (e o do cruzeiro), Miami. A causa, de acordo com o relatório da Guarda Costeira norte-americana que servira de base à notícia, fora uma colossal diarreia colectiva que afectara todas as 1.020 pessoas (passageiros e tripulação) que viajavam no navio. Ainda de acordo com o mesmo relatório, a Guarda Costeira ainda equacionou a hipótese de aerotransportar medicação antidiarreica para o navio em alto mar, porém, as necessidades dos 720 passageiros e 300 tripulantes – em 48 horas foram virtualmente todos afectados pela maleita – eram demasiadas para os stocks correntes disponíveis em todas as farmácias de Miami.
Em consequência disso, foi o Capitão Ragnar Johannassen, afectado tanto pessoal quanto profissionalmente, que, depois de consultar o médico de bordo sobre as necessidades mais imediatas de evacuar de emergência algum caso que inspirasse mais cuidados, se decidiu a interromper o programa previsto, fazendo o navio regressar a Miami, aonde viria a chegar no dia seguinte. Os passageiros iriam permanecer em quarentena por 24 horas enquanto as autoridades sanitárias subiriam a bordo para procurar identificar a causa do incidente: a água, descobriu-se depois. Sem ter sido de sonho, foi certamente um cruzeiro memorável para quem viajou naquele paquete da Norwegian-Caribbean Cruise Lines. Entre os jornais portugueses houve quem tivesse dedicado uma pequena nota ao caso, entre o invejoso e o divertido – abaixo o Diário de Lisboa do dia seguinte.
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«O QUE INTERESSA AOS PORTUGUESES» NEM SEMPRE É O QUE É IMPORTANTE PARA ELES
Há coisa de uns dois meses surgiu na comunicação social um novo estribilho, estruturado à volta do «que interessa(rá) aos portugueses», um estribilho que só faz sentido se o interesse dos portugueses for identificado por um intérprete adequado. Invocar o que interessa aos portugueses é um preâmbulo para seleccionar o que esses intérpretes consideram conveniente classificar de interesse para os portugueses e aquilo que não o é. Normalmente a selecção dos temas diz muito sobre a intenção do intérpretes. E, se o processo parece fazer sentido no momento, perde todo o sentido quando observado à distância. Por exemplo: há oitenta anos, na edição do Diário de Lisboa de 29 de Junho de 1943, as suas páginas interiores (abaixo) guardavam um espaço para dar conta do recomeço da laboração das refinarias de açúcar, que haviam ficado sem a matéria prima vinda das colónias, da chegada a Lisboa de 276.000 quilos de batata (qualificado de «precioso tubérculo»!), e sobre o abastecimento de fruta, escassez de pêra, desaparecimento da cereja, abundância de ameixa.
Seriam provavelmente estes os tópicos que então mais interessariam aos portugueses naquela altura, a questão dos abastecimentos alimentares - abaixo insere-se uma fotografia desse ano de 1943, uma fila para levantamento de cartões de racionamento. Poucas dúvidas haverá a esse respeito. Mas aquilo que hoje percebemos que de importância então acontecia era a Segunda Guerra Mundial. Podia não ser o que mais interessaria aos portugueses, mas, apesar de não se aperceberem disso, o futuro do seu país dependia do seu desfecho.
28 junho 2023
AS PREVISÕES - FURADAS - PARA 2023
Herman Kahn (1922-1983) foi originalmente um físico norte-americano, posteriormente tornou-se um dos cérebros da RAND Corporation, onde se veio a notabilizar pelos seus trabalhos de geoestratégia e de teoria sistémica, nomeadamente no campo da antecipação do que poderiam ser os conflitos nucleares futuros. O seu trabalho de maior impacto foi publicado em 1960 e intitula-se «On Thermonuclear War» (A respeito da Guerra Nuclear). A forma analítica e distanciada como Kahn analisa naquele livro as consequências de um apocalipse nuclear granjearam-lhe uma reputação tal que a sua pessoa acabou parodiada no filme Dr. Strangelove de 1964, na figura da personagem sinistra que dá o nome ao filme. Mas a sua valia académica permaneceu intocada.
Contudo, na altura em que o jornal acima foi publicado - 28 de Junho de 1973 - já os alicerces da sua notoriedade haviam mudado para outra especialidade. A partir de 1961, Herman Kahn, com alguns dos seus colegas, haviam fundado um outro instituto, o Hudson Institute, organização vocacionada para a futurologia. É nessas funções de guru reputado que vemos Herman Kahn a ser entrevistado pelo jornalista Nuno Rocha do Diário de Lisboa, com uma chamada de primeira página, depois desenvolvida numa página interior inteira. A curiosidade é que as profecias de Kahn apontam para o ano em curso, 2023, e, do que aparece destacado, está quase tudo errado: a URSS desagregou-se há mais de 30 anos e, ainda pior, não atribui qualquer importância à ascensão da China.
Sobre as teorias do comportamento dos beligerantes durante um conflito nuclear, as ideias de Herman Kahn nunca foram - felizmente! - testadas até agora. Mas, como futurólogo, as suas ideias vieram a revelar-se um completo fiasco!
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27 junho 2023
« - I'M SORRY DAVE, I'M AFRAID I CAN'T DO THAT»
Suponho que o mais difícil, quando se lê o título do artigo acima, é não fazer a associação entre os objectivos anunciados pela NASA (a conversa estre nave e astronauta) com a famosa conversa entre o astronauta Dave Bowman e o computador HAL 9000 no filme 2001, Odisseia no Espaço. Pois bem, a jornalista que escreveu o artigo consegue! Lendo-o na totalidade, percebe-se que a jornalista Renata Turbiani está apenas a fazer uma condensação traduzida em 300 palavras de um artigo mais desenvolvido que fora publicado dois dias antes no jornal britânico The Guardian... que começa precisamente por essa alusão ao filme 2001! Este é um exemplo acabado do impacto da ignorância na qualidade da informação produzida. Como a jornalista parece não fazer a mínima ideia do significado daquele filme, ignora a alusão na condensação que a incumbiram de fazer, perdendo-se com isso as dúvidas inerentes ao desenvolvimento deste género de tecnologias. Esta é a mediocridade de quem passa ao lado do que é interessante e importante, sem sequer dar por eles. Mais uma vez, e como escrevi no poste anterior, suponho que, mais do que as preocupações futuras com a inteligência artificial, temos que nos desdobrar em preocupações presentes com a estupidez natural. No caso, não da Renata Turbiani, de que temos apenas a certeza da ignorância, não da estupidez, mas da estupidez comprovada de quem contratou a Renata para escrever a página da Tecnologia, sem que ela perceba um mínimo do assunto.
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QUANDO AS LIÇÕES DE CIÊNCIA POLÍTICA SE APRENDIAM LENDO A PRIMEIRA PÁGINA DE UM JORNAL
27 de Junho de 1973. Recordo com saudade nostálgica estes tempos em que a primeira página de um jornal podia ser extremamente instrutiva quanto a temas políticos. Há cinquenta anos descobri que um presidente em exercício de um país também podia dar um golpe de Estado. Até aí, os golpes de Estado que eu conhecera eram para derrubar precisamente os presidentes em exercício. Apesar do país onde ocorrera - Uruguai - se situar num continente - América do Sul - onde o fenómeno era recorrente, para mim tratava-se de um conceito novo: um presidente a violar a legalidade constitucional. A Lei pode ser violada até pelo mais alto magistrado do país. Mesmo complexo, depois de explicado, a criança que eu era então conseguiu compreender isso. Mas aposto que é algo que Donald Trump, porque é tão estúpido, nunca será capaz de perceber. Nem ele, nem os seus seguidores. Tanto se fala das ameaças futuras da inteligência artificial, porque é que não se atribuem outras ameaças actuais às suas devidas causas: a estupidez natural?
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26 junho 2023
MARCELO TEM UMA AGENDA SOBRECARREGADA??!!
É engraçado assistir a estes expedientes - como o artigo abaixo - montados a partir do palácio de Belém para limpar a reputação de Marcelo Rebelo de Sousa que, com a do governo, muito ficaram danificadas pelas respectivas ausências na abertura do monumento às vítimas do incêndio de Pedrógão Grande. Como qualquer história montada, esta também não bate lá muito certa, ao destacar o esforço de gestão do horário que o presidente irá realizar para poder «chegar a tempo» à «inauguração formal do memorial». Marcelo leva sete anos na presidência e nunca lhe havíamos dado por problemas de horário de agenda, evoque-se o tempo que ele tem sempre disponível para mandar bocas aos microfones a comentar a actualidade... (ou seja, nunca o ouvimos a dizer: - Não posso dizer nada a respeito desse assunto porque agora estou muito pressionado de tempo...») Ou isso, ou então e em vez de se procurarem conjugar, governo e presidência desataram às caneladas um ao outro nas marcações das cerimónias... Não por acaso, a notícia do Público contém a foto com Marcelo a visitar oficiosamente o memorial, visita essa que ocorreu anteontem, muito pessoal e discreta (Marcelo aparece sozinho), mas a que Belém deu a devida publicidade. E é espantoso como os jornalistas dão conta de todos estes acontecimentos sem escreverem o óbvio, como se os leitores fossem todos parvos.
OUTROS EFEITOS OBSERVÁVEIS DO «BREXIT», DESTA VEZ NUM AEROPORTO ESPANHOL
Para lá do aspecto organizacional das informações obrigarem à formação de duas filas distintas, a azul - que se adivinha mais fluída - para os passageiros cidadãos da União Europeia, a preta para aqueles que são obrigados a apresentarem os respectivos passaportes, note-se o requinte da selecção das bandeiras, a do Reino Unido e a de Marrocos (mas não a dos Estados Unidos, por exemplo...) de um lado; do outro a da União Europeia e, nesta, o requinte de especificar a Irlanda, que eu interpreto como um acinte dos espanhóis, como que esclarecendo que os irlandeses não são insulares como os outros.
«ICH BIN EIN BERLINER»
Berlim Ocidental, 26 de Junho de 1963. John F. Kennedy: «Ich bin ein Berliner»
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25 junho 2023
OUTRO EFEITO DO «BREXIT»
Sete anos (e dois dias) depois do referendo do Brexit aparecem ainda impactos desconhecidos daquela decisão, como o gráfico acima, publicado na edição deste Sábado da revista The Economist, e que nos dá conta do que aconteceu ao contingente de estudantes estrangeiros a frequentarem as universidades do Reino Unido nos últimos 15 anos e especialmente depois do Brexit. O artigo de onde o gráfico foi extraído incide mais sobre o crescimento abrupto do número de estudantes indianos depois de 2016 (o seu título: Indians are flocking to study at British universities), do que no crescimento mais compassado, mas também muito impressionante, do número de estudantes chineses. Estas tendências, a que se juntam a dos estudantes nigerianos, aparecem contrapostas ao que aconteceu com os estudantes oriundos na União Europeia cujo número diminuiu abruptamente para menos de metade. Um comentário visionário inspirado naquilo que este gráfico nos sugere é que Rishi Sunak poderá ser apenas o primeiro de uma série de primeiros-ministros britânicos de ascendência indiana (ou chinesa).
O COMEÇO DO BLOQUEIO DE BERLIM OCIDENTAL
(Republicação)
Há 75 anos, o bloqueio de Berlim ocidental não se consumou de um dia para o outro. A partir de 18 de Junho de 1948, data em que as restantes potências ocidentais (Estados Unidos, França e Reino Unido) anunciaram a introdução de uma nova moeda, o Deutsche Mark, nas suas respectivas regiões de ocupação, os soviéticos retaliaram colocando progressivas dificuldades ao tráfego rodoviário, ferroviário e fluvial entre Berlim ocidental e as regiões administradas pelos Aliados ocidentais. Até que em 24 de Junho, escassos dias depois, todo o tráfego foi parado. E a 25 de Junho, cumprem-se hoje precisamente 75 anos, os russos chegaram ao limite de cortar o fornecimento de víveres aos sectores ocidentais de Berlim, como noticiava acima o Diário de Lisboa desse dia, numa página do interior. Será o dia em que, considerada a gravidade da situação (havia reservas alimentares em Berlim para 36 dias), as potências ocidentais colocaram pela primeira vez a hipótese de reabastecer a cidade pelo ar. Se a situação internacional parecia quente, pelo destaque que era conferido à situação na Alemanha naquele jornal, o leitor português não o compreenderia. Este é apenas mais um dos milhares de exemplos em que o jornalismo passou ao lado da História. Em contraste, verdadeiramente quentes apresentavam-se as temperaturas na capital, com a crónica do lado a falar de uma «cidade de mármore» a passar por uns «37, 6º graus à sombra». Eram ondas de calor que já aconteciam mesmo antes do clima estar todo alterado...
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O DISCURSO TELEVISIONADO DE LEONID BREJNEV PARA TODA A AMÉRICA
25 de Junho de 1973. Por ocasião da sua visita aos Estados Unidos, é concedida a cortesia ao secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética, Leonid Brejnev, de proferir um discurso posteriormente transmitido na televisão dos Estados Unidos. Enfim, outros tempos mais distendidos das relações entre russos e americanos. E no entanto, apesar de tanta boa vontade, até nos pequenos gestos havia um mundo a separar os políticos do Ocidente dos do Leste: percebe-se a enorme falta de jeito de Brejnev para ler um texto em televisão socorrendo-se do teleponto. Raramente consegue fixar o telespectador nos olhos, o que já naquela altura se sabia ser muito negativo para a imagem do orador. Até mesmo em Portugal, apesar de ser outra ditadura, Marcello Caetano conseguia fazer muito melhor nas suas conversas em família.
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24 junho 2023
SILVIO «BUNGA BUNGA» BERLUSCONI
(Republicação adaptada por causa do falecimento recente do protagonista)
24 de Junho de 2013. Há precisamente dez anos, um tribunal de Milão condenava o antigo primeiro ministro italiano Silvio Berlusconi (recém falecido) a sete anos de prisão, assim como à sua inabilitação perpétua para o exercício de cargos públicos. O que dava interesse ao desfecho é que se tratava da primeira condenação de Berlusconi, depois de uma complicada e arrastada litigância de décadas, contando-se os processos implicando Berlusconi por mais de uma trintena! Mas ainda não será dessa vez: desses sete anos de prisão, Berlusconi cumpriu zero dias. A sua inabilitação e a sua condenação foram anuladas por uma sentença de um tribunal da Relação pouco mais de um ano depois. Em contraste, parece que a José Sócrates, cujo processo se arrasta publicamente desde há oito anos e meio(!), nem irá ser preciso recorrer, porque nem condenado irá ser...
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VÁ DE FÉRIAS SEM STRESS, POLUINDO O PLANETA
A motorização do parque automóvel cá de casa divide-se precisamente entre uma motorização diesel e uma motorização totalmente eléctrica como o desenho acima. Mas a questão que por aqui se coloca não tem nada a ver com a questão ambiental. É prática. O automóvel eléctrico não possui autonomia sequer para uma viagem até ao Algarve. Teria que ser recarregado a meio do caminho. E aí importa saber quanto tempo isso tomaria. É que eu sei que, não havendo filas, quaisquer dez minutos chegam e sobram para atestar um depósito de gasóleo ou gasolina, pagá-lo e seguir viagem. A questão é diferente num automóvel eléctrico. Normalmente, aquilo que sabemos dos carregamentos normais, diz-nos que uma boa carga toma-nos para lá de uma hora. Ora gastar uma hora suplementar de viagem à espera de reabastecimento numa viagem Lisboa-Algarve elevará a sua duração para os registos dos anos 70 do século passado. Mas quando se consulta uma página das empresas concessionárias, elas mostram-se estranhamente evasivas. Constate-se pela resposta abaixo, exemplificativa, da Repsol: para além da enumeração dos «factores que influenciam o tempo de carregamento», repare-se como não existe nenhuma referência indicativa do tempo que a operação poderá tomar - poderia clarificar, entre 15 e 150 minutos, por exemplo. Nada dizer a respeito é muito suspeito, não devem ser boas notícias para o cliente, chamar-lhe-ia mesmo uma omissão eloquente. Por outro lado, e admitamos que o automóvel possa lá ter chegado ao fim de umas boas quatro horas de viagem (300 km percorridos a 100 km/h para não descarregar demasiado a bateria + o carregamento...), coloca-se o problema adicional de o carregar enquanto se lá está. E aí sabemos que a população do Algarve triplica no Verão e as infraestruturas não. E os postos de carregamento eléctrico não devem ser diferentes do resto. Portanto, é de recear que venha a ser preciso urdir um estratagema qualquer para carregar o automóvel num local e hora específico, onde haja menos gente. Imaginemo-nos num rincão perdido a carregar o automóvel, ou então a fazê-lo às três da manhã, quanto todos dormem. Em conclusão: quando em férias, viva o gasóleo!
23 junho 2023
OLHEM QUE COINCIDÊNCIA!!!...
Na história da busca pelo submersível desaparecido que dominou a actualidade informativa desta semana, foi preciso que se esgotassem as 96 horas de oxigénio que haviam sido dadas como referência para que, a coincidir com o fim desse prazo, se encontrassem os destroços e se anunciasse o triste desfecho - que era assaz previsível. Entretanto, nesses quatro dias que decorreram de Domingo a Quinta-Feira, o assunto rendeu, rendeu, rendeu, mediaticamente, em que era quase unânime o tom angustiado (mas optimista!) da cobertura noticiosa. Só em Portugal, e por causa de preencher o tempo dedicado ao assunto pelos nossos três canais noticiosos, foi uma verdadeira festa para os especialistas da Marinha - até deu para estranhar a ausência do almirante, um conhecido submarinista. Mais a sério, no mínimo, há que considerar o fim do prazo e o anúncio da descoberta dos destroços como uma daquelas coincidências muito coincidentes. No máximo, e desconfiando daquela coincidência, poderemos alongar-nos em considerações sobre aquilo em que se terá tornado a informação nos dias que correm, a predominância das coreografias do que a comunicação social considerará que interessará ao público ouvir, sobre aquilo que os órgãos de informação já sabem, mas que não lhe interessa informar, porque, se divulgado, lhes estragaria o impacto e a qualidade da notícia. É que, a acrescer ao fenómeno dos destroços que não terão sido encontrados mais cedo, descobre-se agora (acima) que a US Navy já detectara uma implosão submarina no Domingo, implosão que era completamente consentânea com o desaparecimento do submersível. A informação foi disponibilizada. Mas ter-se sabido isso mais cedo, baixaria substancialmente as expectativas e a angústia do salvamento e também, decerto, o valor noticioso do que se extrairia dali nos dias seguintes... Mais estulta, a polémica por cá orienta-se para a maneira como José Rodrigues Santos abriu o telejornal de ontem, a dizer: morreram todos!!! Suponho que interpretou bem o espírito da coreografia do acontecimento.
TODO UM OUTRO SENTIDO PARA A EXPRESSÃO «UMA FACADA NO MATRIMÓNIO»
(Republicação)
Manassas é uma pequena localidade da Virgínia (38.000 habitantes) irremediavelmente associada à História dos Estados Unidos pelas duas batalhas da Guerra Civil que ali se travaram em Julho de 1861 e Agosto de 1862 mas também por, 130 anos depois, em 23 de Junho de 1993, ter sido a residência do casal Bobbitt, os protagonistas de um acontecimento que veio a arrepiar meia América. O casal Bobbitt casara-se quatro anos antes: John Wayne Bobbitt de 22 anos, que se alistara como fuzileiro, conhecera a manicure Lorena Gallo de 18 anos num bar muito frequentado por fuzileiros e haviam-se apaixonado. Parecia uma reprodução do enredo do filme Oficial e Cavalheiro (estreado sete anos antes) embora com um Richard Gere menos garboso mas com uma Lorena morena a assemelhar-se bastante, tanto física como psicologicamente, à personagem de Debra Winger. Mais tarde, Lorena veio a alegar que John havia sido o seu primeiro namorado sério. Considerando a ascendência equatoriana de Lorena e o tradicional recato imposto nas famílias tradicionais sul-americanas a opinião pública norte-americana (que seguiu o caso com fervor) veio a considerar a alegação bastante plausível.
Como acontece em muitos casamentos prematuros, quatro anos de convívio haviam desfeito a relação entre o casal. John Wayne Bobbitt havia saído dos Fuzileiros, o casal experimentava dificuldades económicas, Lorena fizera um aborto (viria mais tarde a reclamar que forçada por John), este dera em beber, tornara-se violento, a polícia já tivera que intervir nas disputas conjugais, houvera queixas de violências recíprocas, Lorena chegara a dar início a um processo de divórcio que entretanto retirara. Mas em 23 de Junho, para além de uma banal vida infeliz, o casal adquiriu uma notoriedade nacional, mesmo mundial. De acordo com os testemunhos que só os dois cônjuges puderam dar sobre o que acontecera (muitas vezes em contradição directa), John regressara a casa bêbado tarde na noite e forçara a mulher a manter relações sexuais. Revoltada por aquilo que considerava não passar de uma violação, Lorena levantara-se, fora à cozinha beber um copo de água, dera-lhe uma coisa, pegara numa grande faca de cozinha e, regressando ao quarto onde John dormia etilizado, levantou os lençóis, pegou no pénis do crime e zuca!
Como se fosse um rabino desastrado ou entusiasmado em excesso, Lorena Bobbitt acabara de entrar no imaginário arrepiado da população masculina adulta dos Estados Unidos! Com as duas armas do crime (pénis e faca) nas mãos, Lorena pegou no carro e fugiu de casa. A umas centenas de metros dali baixou o vidro da porta e deitou fora a prova do delito. Enquanto isso, um amigo, presumivelmente chamado por John, chegou a casa e, constatando o óbvio, levou-o para o hospital. O primeiro médico que os atendeu na urgência, falho de imaginação, ainda pensou que John era um suicida que cortara os pulsos até ao paciente expor o seu problema: um miserável toco de dois centímetros, tantos os que Lorena lhe deixara. Entretanto a polícia partira à procura de Lorena que, agora e do ponto de vista médico, se tornava imprescindível para a localização do material em falta, indispensável para uma cirurgia de reconstrução. A polícia lá encontrou Lorena a vaguear que se revelou arrependida e prestável, largando umas indicações vagas sobre o local onde deitara fora o bicho. Com base nelas, montou-se uma vasta operação de caça à pila.
Afinal foi um bombeiro e não um polícia que a encontrou – parafraseando Churchill na ocasião, nunca tantos fizeram tanto pela pila de um desgraçado – a envolveu em gelo e a expediu para o hospital (Prince William) onde, qual episódio do Dr. House, apareceu uma equipa, o Dr. Sehn, urologista (é ele que aparece na fotografia acima exibindo a parte seccionada do pénis de Bobbitt), e o Dr. Berman, cirurgião plástico, que estava disponível para realizar uma complexa intervenção de reimplantação do pénis que durou nove horas e meia! A operação foi um sucesso, porém vagaroso: um mês depois já John conseguia urinar normalmente e alguns meses depois ele recuperara a sua capacidade eréctil. Mas o verdadeiro espectáculo que apaixonou a América não foi médico, foi legal. Houve centenas de jornalistas a acompanhar os dois processos que o episódio suscitou. As feministas quiseram tornar o episódio num símbolo da guerra dos sexos. Por causa delas, dos seus V de vitória e pela forma como abriam e fechavam intimidadoramente os dedos, hoje o processo de amputação está associado a uma tesoura (abaixo), quando na realidade Lorena Bobbitt usou uma – grande – faca.
Quando ao que se passou na sala de audiências, por um lado, John Wayne Bobbitt acabou absolvido da acusação de violação da esposa; quanto a Lorena, os seus advogados invocaram a sua insanidade no momento dos factos e conseguiram ganho de causa, evitando-lhe uma pena que poderia atingir os 20 anos de prisão. Pelas fotografias acima compreende-se como qualquer dos dois réus se afigurava propenso a despertar a simpatia dos espectadores e como, apesar do arrepio que o episódio possa despertar entre a opinião pública masculina, todo o episódio não parece de modo a gerar aquele tipo de horror que os crimes hediondos costumam suscitar na opinião pública. No meio de tantos trâmites legais, os Bobbitt só se divorciaram em 1995, o que não deixa de ser irónico quando se constata que ainda no Verão de 1994, John Bobbitt se aproveitou da sua estranha popularidade para estrelar um filme pornográfico intitulado John Wayne Bobbitt: Uncut (sem cortes). Os enredos dos filmes pornográficos não primam pela imaginação mas o deste ainda é mais fácil de imaginar…
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22 junho 2023
A PRIMEIRA VIAGEM EM AVIÃO A JACTO D«O CONHECIDO MILIONÁRIO SR. GULBENKIAN, DE 84 ANOS»
22 de Junho de 1953. A partida para uma estadia de férias em França d«o conhecido milionário sr. Gulbenkian, de 84 anos» é noticiada da forma que a imagem documenta. Refira-se que o Comet fora o primeiro avião comercial a reacção, entrara ao serviço há apenas um ano. A meia tonelada de bagagens (ou, mais precisamente, 568 quilos...) e a comitiva que acompanhavam Calouste Gulbenkian faziam parte daqueles adereços de ostentação que seriam um desapontamento para as audiências do jornal se não existissem.
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21 junho 2023
QUEREM VER QUE AFINAL FOI A UCRÂNIA QUE INVADIU A RÚSSIA?...
A maneira como certos comentadores pretendem distorcer o âmbito do que está em causa na invasão russa da Ucrânia, só merece um desdenhoso comentário sarcástico. Aliás, o processo de (no caso) Pedro Tadeu distorcer o que é óbvio, relativizando-o, é sistemático nele, como se recorda por este comentário evasivo abaixo, que lhe ouvimos três dias antes da invasão russa. Revelou-se uma chatice, porque os factos vieram comprovar que, no que diz respeito à anunciada invasão da Ucrânia, Biden tinha razão e Putin estava a mentir com todos os dentes que tinha na boca. Mas essa admissão do óbvio não ouvimos - e nunca ouviremos - a Pedro Tadeu... Não é uma questão de opiniões que ele possa ter, é uma tentativa sua, continuada, de evadir-se ao reconhecimento da verdade óbvia. Vigarice intelectual, em suma.
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A ELEIÇÃO DO PAPA PAULO VI
21 de Junho de 1963. O colégio de cardeais elege como Papa o cardeal Montini de 65 anos, que tomou o nome de Paulo VI.
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20 junho 2023
ÍNDIA: DOS CARRIS PARA AS ASAS
Uma das imagens mais emblemáticas da Índia é o ambiente completamente caótico do seu transporte ferroviário. Há imagens de comboios apinhados de gente em todo o Mundo mas as da Índia superam tudo! A Índia está a modernizar-se gradual e aceleradamente e é previsível que, num futuro próximo, todos aqueles milhões que agora enchem e até adornam os tectos e as laterais dos comboios-expressos venham a preferir outros meios de transporte. Embora se reconheça que essa evolução se esteja a fazer preservando o mesmo registo sóbrio e económico, completamente adaptado as realidades locais e à imagem propagandeada pelo Mahatma Gandhi, repare-se abaixo nesta modesta rampa de embarque que é usada pela companhia aérea local IndiGo, muito diferente das mangas de embarque de outros aeroportos de outras paragens.
Uma das notícias recentes, discretas, mas significativas, foi o anúncio que essa mesma companhia low-cost IndiGo fez uma encomenda - gigante! - à Airbus de 500 aviões A-320neo a entregar entre 2030 e 2035. A IndiGo, que foi criada apenas em 2006, já é actualmente a companhia aérea da Ásia que mais passageiros transporta anualmente e, pelos vistos, tem perspectivas de se expandir ainda mais. Mas não é só ela. A companhia aérea de bandeira da Índia e grande rival da IndiGo, a Air India, havia-se também notabilizado por, no princípio deste ano, ter colocado uma outra grande encomenda de aviões (470), só que desdobrada: 250 aviões à Airbus europeia e 220 aviões à Boeing norte-americana. Há optimismo entre as operadoras aéreas, tanto mais que está descartada a hipótese de haver borlistas pendurados nas asas ou sentados no tecto dos aviões.
COMBATE ENTRE FASCISMOS
20 de Junho de 1933. Na Áustria, o chanceler Engelbert Dollfuss (à esquerda) proscreve a ala austríaca do partido nazi. O governo encabeçado por Dollfuss estava no poder há pouco mais de um ano (desde Maio de 1932), mas sempre possuíra uma maioria extremamente frágil no parlamento. Um incidente parlamentar que ocorrera em Março de 1933 servira de pretexto a Dollfuss para o encerrar sem entretanto convocar novas eleições. O governo austríaco passara a governar por decreto e todas as iniciativas que Dollfuss adoptará, a partir daí, serão no sentido de transformar a Áustria num estado autoritário, corporativo e católico (em mais do que um aspecto semelhantes ao Estado Novo português). Em Maio de 1933 fundara uma Frente Patriótica, uma liga congregando todas as forças políticas da direita austríaca, e embrião de um partido único como a União Nacional. No final desse mesmo mês de Maio ele ilegalizara o partido comunista austríaco, que não tinha representação parlamentar sequer (0,6% dos votos nas eleições de 1930). Agora, três semanas depois, calhara a vez ao partido nazi, que também não tinha representação parlamentar (3,0% dos votos nas mesmas eleições de 1930), mas que era um partido suportado por Berlim (Hitler chegara ao poder em Janeiro de 1933) que se mostrava muito activo, como se pode ler acima nas notícias chegadas de Viena, há oitenta anos. Estamos perante uma guerra civil entre duas formações políticas da extrema direita fascista - uma quer preservar a independência austríaca, a outra não. Estes acontecimentos são ricos em significado mas tornam as narrativas necessariamente mais complexas - por isso, é mais fácil omiti-los, e a verdade é que poucos os conhecem e ainda menos os que realizam o que eles implicam: as elites políticas da extrema-direita austríaca não viam com grande entusiasmo a anexação pela Alemanha. Na versão encurtada, os nazis vão vencer, porque, para já nesta primeira fase, depois de um atentado falhado em Outubro de 1933, vão conseguir assassinar Dollfuss em Julho de 1934.
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19 junho 2023
«MULHER QUE BATEU NO CAIXÃO DURANTE O PRÓPRIO VELÓRIO MORREU DIAS DEPOIS»
Notícias como a supra deveriam servir-nos de reflexão que registar e depois noticiar um óbito de alguém não se pode considerar algo absolutamente errado. O erro, quando acontece, é a sua publicação prematura. E quanto mais prematura tiver sido essa publicação, maior terá sido o erro. Mas assim, uma precipitação de uma semanita, como aconteceu neste muito divulgado caso da morta ressuscitada no Equador, até merece a nossa indulgência. Adaptando o que Mark Twain disse, numa outra citação menos conhecida do que a do anúncio prematuro da sua morte, ainda que viva, a pobre senhora não se devia estar já a sentir lá muito bem...
O «VOYEURISMO» MÓRBIDO DA EXECUÇÃO DO CASAL DE ESPIÕES, JULIUS E ETHEL ROSENBERG
19 de Junho de 1953. Completam-se 70 anos sobre a data da execução, nos Estados Unidos, do casal de espiões (a favor da União Soviética), Julius e Ethel Rosenberg. Dos variadíssimos casos de espionagem da Guerra Fria (alguns deles evocados aqui no Herdeiro de Aécio, como o de Kim Philby ou o de Klaus Fuchs), este perdura, não por quaisquer dúvidas quanto à culpabilidade dos réus, mas por causa da severidade das sanções. Quanto à sua culpabilidade, a revelação pública do projecto Venona em 1995 veio comprovar que as actividades do casal eram conhecidas da contra-espionagem americana desde quase o seu princípio. A questão que se colocou à época e que se perpetua deste então, foi a questão de os executar depois de condenados à pena capital. O presidente de então, Dwight Eisenhower, acabado de tomar posse em Janeiro de 1953, não quis tomar a decisão - a de comutar a sentença - que ele sabia ser impopular junto da opinião pública. O excesso era agravado pela discrepância da sanção máxima aplicada ao casal, quando comparada com as penas de prisão aplicadas aos restantes membros da rede de espionagem de que faziam parte e da qual nem sequer eram os líderes. A execução teve lugar há setenta anos. Fazendo eco do ambiente mediático que se vivia nos Estados Unidos a respeito do assunto, ao mesmo tempo histérico e mórbido, o Diário de Lisboa do dia seguinte informava os seus leitores que Julius Rosenberg sucumbira «à terceira descarga eléctrica» (o método de execução fora a cadeira eléctrica) e que a sua mulher (mais coriácea, presume-se) precisara de «cinco descargas». Mais nenhum espião foi executado nos Estados Unidos depois disso. Pelo menos legalmente. Noutros países é banal. Na Arábia Saudita foi o mês passado. No Irão foi no princípio deste ano. Mas, nestes últimos casos, apesar dos 70 anos decorridos, quase ninguém se importou. Aquilo não são países civilizados. Não se pode é dizer isso muito alto.
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18 junho 2023
EU «INSTO» O PCP A DEIXAR-SE DE DEMAGOGIA HIPÓCRITA. E «INSTO» A LUSA E O PÚBLICO A DEIXAREM DE SE INSTRUMENTALIZAR NAS MANOBRAS DE PROMOÇÃO DE IMAGEM DO NOVO SECRETÁRIO GERAL DO PCP
A iniciativa do PCP é descabida, demagógica e hipócrita, bastaria ser confrontada com aquilo que já lhes ouvimos e que sabemos que os comunistas sempre defenderam historicamente. Hoje cumprem-se 480 dias da invasão da Ucrânia. E em 15 de Outubro de 1942, ter-se-iam cumprido 480 dias da invasão da União Soviética. A expansão dos exército alemães estava no seu apogeu (ver mapa abaixo). Façamos então este exercício: será que estes mesmo comunistas portugueses teriam o descaramento de nos dizer que, naquelas circunstâncias equivalentes de 1942, também teriam instado a União Soviética comunista e a Alemanha nazi a "sentarem-se à mesa das negociações"? A pergunta é traiçoeira porque só tem uma resposta séria. E o assunto em si nem é para ser levado a sério, porque, num caso (1942) como noutro (2023), os "intervenientes na guerra" não se vão sentar em mesa alguma, pelo menos para já. E aí até são concordantes em mostrar uma saturação não disfarçada para com estas iniciativas palermas promovidas por quem tem agendas mediáticas próprias. E, por falar nisso, o principal da agenda mediática do PCP parece ser exibir e fazer com que o seu novo secretário-geral seja falado - como se percebe acima, a notícia da Lusa aparecida no Público tem-no a enfeitar a foto e ele é mencionado nela nada menos que nove vezes nas suas poses instantes... Já que estamos numa de instar, instemos os jornalistas a não serem elementos tão passivos da propaganda política...
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O LANÇAMENTO DO DISCO COM O FORMATO LP
(Republicação)
18 de Junho de 1948. Em Nova Iorque, a Columbia Records americana apresenta um novo formato de disco a que atribui a designação de Long Playing (LP). Com um diâmetro de dez ou doze polegadas (25 a 30 cm) e uma velocidade de 33⅓ rpm (rotações por minuto), o novo formato tem uma capacidade tripla a quádrupla do formato então mais popular, de 78 rpm, que apenas suportava menos de cinco minutos de gravação em cada uma das faces do disco. Ao ser lançado, e com uma capacidade para um pouco mais de meia hora de música, este novo formato parecia pensado sobretudo para as peças de música clássica, tanto mais que no ano seguinte, a concorrente RCA Victor reagira com um terceiro modelo de disco também muito bem sucedido, menor, de mais curta duração e de 45 rpm. O formato permaneceu marginalizado por mais de uma década. Foi só a partir da década de 1960 que o formato LP verdadeiramente se consagrou, de que um dos exemplos de mais popularidade foram The Beatles (acima). A partir da década de 1980, a tecnologia do vinil foi substituída pelos CDs, mas, desde há vinte anos para cá assistiu-se a uma sua ressurgência e, com ela, a uma recuperação do formato LP, formato esse apresentado ao Mundo cumprem-se hoje setenta e cinco anos.
ANGÚSTIAS DE LUXO - AQUELES QUE VIVEM DE ASSUSTAR O PRÓXIMO
Durante praticamente toda a sua existência, a Humanidade viveu com as catástrofes que lhe podiam vir a acontecer, algumas aconteciam (terramotos, inundações, epidemias), mas viveu na ignorância feliz de que um dia talvez um asteróide lhe pudesse cair em cima. A disciplina da astronomia é milenar, a astronáutica tem 66 anos, mas os meteoritos eram coisas que aconteciam. Foi só no século XXI que se atingiram as capacidades técnicas para detectar muito pequenos pedaços de matéria a vogar no espaço próximo. Detectá-los e calcular as suas trajectórias é uma tarefa ingrata e cheia de incertezas. E aqui acaba a ciência, e começa o trabalho estúpido de quem vive de assustar os outros, a pretexto de seja do que for...
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17 junho 2023
«PARTE DOS PROBLEMAS DO SNS ESTARÁ RESOLVIDA NA SEGUNDA-FEIRA»
17 de Junho de 2022. Esta promessa concreta de António Costa tem precisamente um ano e foi proferida em resposta à pressão político-mediática que estava a incidir sobre a ministra da Saúde, tendo como pretexto o problema da falta de profissionais para completar em férias as urgências de obstetrícia. A mítica Segunda-Feira que o primeiro-ministro aponta acima como referência para a resolução de «parte dos problemas do SNS» foi geralmente interpretada como sendo o dia 20 de Junho subsequente. E claro que ele se meteu de fora do problema! As medidas anunciadas pela então ministra da Saúde foram sintetizadas pelos jornalistas: «Alterações na remuneração dos médicos e possíveis acordos com o privado». Quanto à primeira medida, aqui dei conta que demorou cinco semanas(!) a concretizar-se; quanto à segunda, ainda pior: os «possíveis acordos com o privado» foram anunciados há apenas uma semana! E foram anunciados com a pompa de quem aposta que a audiência é composta por desmemoriados. Só que entretanto a premência que o assunto suscitava desapareceu como que por encanto, a partir do momento em que Marta Temido se demitiu. António Costa, como de costume, saiu de fininho. Apareceu um novo ministro - que, qual boneco de programa infantil de televisão, fala muito mas não faz nada - e sobretudo a nova figura de um director executivo do SNS que já era alguém muito qualificado antes de ter feito qualquer coisa que fosse... Decorrido todo um ano, vale a pena, perante estes novos protagonistas, lembrar a promessa de António Costa e fazer as pessoas perguntarem-se que «parte dos problemas do SNS» elas considerarão que terá sido resolvido neste último ano. É uma pergunta pertinentíssima, apesar de haver quem considere a promessa descontextualizada... Neste último caso, não gostei da explicação.
A PRIMEIRA REVOLTA POPULAR CONTRA UM REGIME COMUNISTA
17 de Junho de 1953. Tem lugar em várias cidades da Alemanha Oriental (a denominada República Democrática Alemã, criada em Outubro de 1949) um alargado conjunto de protestos populares contra as medidas recentemente impostas pelo governo comunista. Como acontece com todas as ditaduras, este género de protestos consegue ser abafado noticiosamente antes de ser suprimido com violência pelas forças da ordem. Neste caso dava-se a circunstância excepcional das principais manifestações se estarem a desenrolar em Berlim, uma cidade dividida - embora ainda não por um Muro - entre Ocidente e Leste. A revolta acabou assim por acontecer paredes meias com Berlim Ocidental, beneficiando assim da cobertura noticiosa da comunicação social do Ocidente, que estava naturalmente fora do controlo das autoridades alemãs de Leste e reportavam o que queriam. Um dos aspectos visualmente chocantes dos confrontos era o protagonismo assumidos pelos carros de combate do exército soviético na repressão, numa confirmação de uma evidente impotência (e impopularidade) do regime comunista da Alemanha Oriental em lidar com a insatisfação dos seus cidadãos. Os confrontos provocaram (oficialmente) 55 mortos. Estima-se que mais de 15.000 pessoas terão sido presas. A repressão acabou por triunfar, mas continuou a subsistir um escape para aquelas populações insatisfeitas do Leste: a sua fuga para o Ocidente, como, por sua vez, assinalava esta outra reportagem abaixo desse mesmo anos de 1953. Nos oito anos que se seguirão, até à construção do Muro de Berlim em 1961, a população da Alemanha Oriental diminuirá de 18 milhões para 17 milhões, ou seja uma perda líquida de 1 milhão de habitantes, muitos dos quais trabalhadores qualificados, que podiam ganhar mais e viver melhor na Alemanha Ocidental.
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16 junho 2023
«SE A GUERRA COMEÇAR AMANHû
«Se a Guerra começar amanhã» (Yesli zavtra voyna) é um filme soviético, estreado em Fevereiro de 1938, e que concebido e realizado por um colectivo de cineastas encabeçado por Efim Dzigan. É um filme de propaganda de época, com um trecho musical marcante que se repete, que está vocacionado para perdurar no ouvido. Tem uma duração de pouco mais de uma hora. Por curiosidade, acrescente-se que este mesmo filme havia sido seleccionado para representar a União Soviética no primeiro Festival de Cannes, que se estava marcado para se realizar em Setembro de 1939, e que foi cancelado devido à eclosão da Segunda Guerra Mundial. O filme soviético teria vindo a propósito porque a história que conta é uma hipotética história de guerra.
Mostra a heróica reacção soviética a um ataque militar de uma potência imperialista capitalista que se consegue facilmente identificar como sendo a Alemanha. Porque o filme tem a duração de apenas uma hora a guerra não é muito prolongada e a trama não é complexa. No filme, para além do povo heróico, aparecem dirigentes soviéticos verdadeiros: o incontornável Staline, o comissário para a Defesa Voroshilov, o marechal Budienny, que irá encabeçar a carga de cavalaria conducente ao vitorioso desfecho final. Mas é Voroshilov quem aparece, a certa altura, a transmitir a mensagem essencial do filme: «Se nos impuserem uma guerra, ela não se travará no nosso solo soviético, mas no território daqueles que ousaram desembainhar a espada em primeiro lugar».
No futuro mais imediato, os acontecimentos descritos no filme is-se-ão consubstanciar dali por dois anos, em Junho de 1941, quando a Alemanha invadir realmente a União Soviética (Operação Barbarossa (1)(2)). Infelizmente para os russos, o enredo da realidade divergirá do narrado pelo filme: irão decorrer três longos anos (1941-44), até que a guerra chegasse ao «território daqueles» que haviam «desembainhado a espada em primeiro lugar». Mas o que nos interessa para o caso é a História recente, a da invasão russa da Ucrânia de 2022, e a constatação de como a narrativa russa não evoluiu nestes 83 anos. Seja qual for a sua extensão geográfica, a Rússia tem sempre vizinhos ameaçadores que lhe impõe guerras. E os russos preferem travá-las sempre em território alheio, quando podem...
EM POLÍTICA (COMO EM TUDO, NA VIDA), NÃO VALE A PENA TER RAZÃO ANTES DE TEMPO
A senhora que acima vemos a discursar no parlamento britânico (está-se a 22 de Julho de 2021, em plena pandemia) chama-se Dawn Butler, é uma deputada trabalhista, e vamos vê-la no final do vídeo a ser expulsa pela presidente em exercício (Judith Cummins, outra deputada trabalhista), por se recusar a retractar da acusação que o (então) primeiro-ministro Boris Johnson (conservador) era um mentiroso que havia repetidamente mentido ao parlamento. Quase dois anos depois, a grande notícia de ontem em Inglaterra foi a publicitação do relatório de uma comissão daquele mesmo parlamento sobre a conduta do primeiro-ministro durante a pandemia, baptizado Partygate. As opiniões parecem ser muito consensuais. Por exemplo, a BBC descreve-o como devastador para o visado. O relatório concluiu que Johnson mentiu e que deliberadamente enganou a câmara dos comuns a respeito do Partygate, que enganou a própria comissão de inquérito durante as audiências e que agiu em desrespeito à comissão recorrendo a uma "campanha de abusos e intimidação". Os autores do documento esclarecem que o relatório teria resultado numa sanção de suspensão do mandato de Boris Johnson por 90 dias, caso ele não se tivesse demitido entretanto, em antecipação. Essa sanção obrigaria a que houvesse novas eleições no círculo eleitoral por onde Johnson foi eleito. Mais do que uma censura, o conteúdo do relatório é uma descompostura, um assassinato de carácter. Será que a deputada trabalhista terá agora direito a um pedido de desculpas tardio pela sua presciência?
O CASAL IMPROVÁVEL
(Republicação)
16 de Junho de 1943. Numa cerimónia discreta, Charlie Chaplin casa por uma quarta vez com Oona O'Neill, actriz e filha do dramaturgo Eugene O'Neill. Mesmo pelos padrões de uma Hollywood habituada ao insólito, este casamento destacava-se pelo facto do noivo (54) ter o triplo da idade da noiva (18 anos). Adivinham-se as repercussões e os comentários, se o mesmo acontecesse oitenta anos depois... E contudo, o improvável casal irá permanecer casado por mais 34 anos, até à morte de Chaplin no dia de Natal de 1977, tendo tido oito filhos nos dezoito anos que vão de 1944 a 1962.
15 junho 2023
OPINIÕES SECTÁRIAS DE UMA MESMA ALEMANHA
Recentemente foram tornados públicos os resultados de três sondagens distintas realizadas na Alemanha. Daquilo que li, os resultados não são muito distintos, mas o tratamento informativo que lhes foi dado, sim. O Público (do lado esquerdo) resolveu dar destaque ao facto de, numa delas e apenas numa das três sondagens!, o AfD de extrema direita aparecer (marginalmente) em segundo lugar, ultrapassando o SPD nas intenções de voto de umas hipotéticas eleições (que não vão ter lugar). Em contraste, e partindo precisamente daquelas mesmas sondagens e da mesma informação, a The Economist elege como alvo do desgaste revelado por elas o partido dos Verdes, o segundo parceiro da coligação tripartida que governa a Alemanha, composta pelo SPD, Verdes e FDP. Gostaria de ainda ter a ingenuidade de admitir que a diferença de tratamento do mesmo tema, suportado nos mesmos factos, se poderia dever ao pluralismo de opinião. Mas não. É o contraste entre estilos alarmistas de informação (que é o que vemos praticado pelo Público) e a defesa de uma agenda política precisa (no caso da The Economist).
A GUERRA CIVIL DE ESPANHA NUMA NARRATIVA ANTI-FRANQUISTA
A editora Europa-América havia considerado que este livro era de «natureza histórica» e que, portanto, estaria dispensada de o apresentar previamente à Direcção Geral de Informação. Esta última, e porque a narrativa divergia em muito da história da Guerra Civil de Espanha (1936-39) que se contava oficialmente por cá, preferira classificá-lo, ao livro, de «carácter económico, político e social». Daí a razão da multa que fora aplicada à editora. As simpatias pró-republicanas do autor (norte-americano), mas também a sua competência sobre o tema, eram indiscutíveis. E a escolha da Guernica de Pablo Picasso para figurar na capa era indicativa do público a que se destinava. Seria complicado retirá-lo agora do mercado. Tudo parecia cristalino sobre o que se passara, sobre quais haviam sido as intenções das duas partes (a Direcção Geral de Informação e as Publicações Europa-América), a publicitação da sanção administrativa era aqui utilizada pelo editor como um factor de promoção adicional do livro: se a censura o multara, era porque ele era bom, de certeza... Foi há cinquenta anos.
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14 junho 2023
A VOLTA AO MUNDO EM AVIÃO
14 de Junho de 1923. «Na residência do comandante Sacadura Cabral reuniram hoje os representantes dos jornais diários de Lisboa, afim de tomarem conhecimento do relatório apresentado ao sr. ministro da Marinha sobre a viagem de circumnavegação aérea (relatório que o Diário de Lisboa publicava destacado, em primeira página). O comandante Sacadura Cabral pretende saber, por intermédio da imprensa, o que pensa o país acerca da viagem, para o governo tomar uma resolução definitiva e abreviar os preparativos de forma a poder partir para Inglaterra no fim deste mês, a fim de escolher o material. Da reunião nasceu o alvitre de consultar todas as câmaras municipais, que de alguma forma representam a opinião geral do país. Se o Brasil não quiser colaborar com a Aviação portuguesa, vai ganhando terreno a ideia de Portugal fazer a viagem sozinho, com os recursos de que dispõe. Surgiu ainda a hipótese de convidar a aviação brasileira a tomar parte na viagem, sem o menos dispêndio para o Brasil, no caso de falhar a colaboração oficial.»
Como se comprova, há cem anos, pensava-se entusiasmadamente e em grande! A viagem concebida pelo aviador português cobriria uma distância de 19.500 milhas e ele prevera um orçamento («uma despesa máxima»...) de 46.500 libras (britânicas). Percebia-se que a ideia de Sacadura Cabral seria expandir ambiciosamente o voo por ele realizado no ano anterior sobre o Atlântico Sul. Apesar do dinamismo e como sabemos, o projecto nunca saiu do papel.
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