18 fevereiro 2013

O PRÓXIMO CONCLAVE

aqui escrevera, longe de premências jornalísticas, sobre conclaves, as reuniões de cardeais onde se procede à eleição dos papas. Poste esse onde acabo com uma conclusão que o futuro se encarregaria de desmentir completamente: a de que a pressão mediática (a propósito dos escândalos da pedofilia) não teria consequências na alta hierarquia da Igreja Católica, para mais especificando: a começar pela abdicação do Papa… Pode-se argumentar especulando sobre o que terá motivado Bento XVI a resignar, se teria sido outra coisa que não a pressão mediática, mas o que é importante é que ele resignou – e que eu me enganei. É imbuído de um espírito de modéstia correspondente que eu faço este meu contributo para que quem leia forme uma opinião sobre o desfecho do próximo conclave. Construí aquele quadro acima (clique-se em cima dele para o ampliar), reportando-me às últimas quinze eleições papais, que se estendem do Século XIX ao Século XXI. As colunas (da esquerda para a direita) indicam o nome escolhido pelo Papa eleito, o ano de nascimento, o ano da entronização e a idade do novo papa; os dias de duração do conclave que o elegeu, o número de eleições necessárias para o efeito (o papa é eleito por uma maioria qualificada – normalmente ⅔) e o números de cardeais (eleitores) presentes.
 
Olhando para o quadro, que pretendi composto por dados objectivos e desprovido de opiniões (muito menos de previsões…), percebe-se que houve uma mudança para a modernidade quando do conclave de 1846. Nesse ano, era previsível que a escolha do Cardeal Ferreti (com fama de liberal e que viria a ser o Papa Pio IX) viesse a ser vetada em nome do Imperador austríaco (quando tais vetos eram ainda possíveis). Só que, quando adoptando o ritmo dos conclaves anteriores, o cardeal austríaco disso encarregado chegou a Roma para participar no conclave (e eventualmente boicotá-lo…) já ele terminara… O truque não se pôde tornar a repetir, mas a partir daí os conclaves duraram sempre menos de uma semana, mesmo naquelas eleições que se vieram a revelar mais complicadas, onde foi necessário experimentar vários candidatos à procura de um que gerasse o consenso de ⅔ dos cardeais, como as de Pio XI (14 escrutínios em 1922), João XXIII (11 em 1958) ou Bento XV (10 em 1914). Note-se simultaneamente, que o ritmo dessa procura de um candidato consensual não parece ter sido afectado pelo aumento (que chegou à duplicação) do número de participantes no conclave, como se veio a verificar depois do último terço do Século XX.    
 
Outro factor interessante é o da idade dos escolhidos, que se situou normalmente entre os 60 a 70 anos. Repare-se acessoriamente como Bento XVI foi, com 78 anos, aquele que mais tarde foi eleito Papa nos últimos 200 anos, detalhe que ele não desconheceria. Quem lhe faz agora elogios pelo seu desapego ao poder, deveria acrescentar que, se isso for verdade hoje, não o seria em 2005. Uma palavra nesse sentido do Cardeal Ratzinger e os seus pares procurariam outro sucessor para João Paulo II… Porém, mais importante que a personalidade ou a idade do futuro papa, o que parece encantar a comunicação social é a sua nacionalidade. E aí, a procura de um furo jornalístico parece prevalecer sobre a realidade dos factos históricos do quadro acima: quanto mais exótico o candidato, tanto melhor. Depois da monotonia de papas italianos, os de uma outra nacionalidade europeia parecem já se terem tornado numa banalidade e agora procuram-se extra-europeus, de preferência coloridos… Creio, porém, que as listas que desdobram os cardeais pela sua nacionalidade de origem cometem um erro fundamental: tendem a juntar cardeais de natureza diferente; há os que dirigem as suas dioceses nos seus países de origem e há os que residem no Vaticano.
 
Estes últimos cardeais, pertencentes à Cúria Romana (eram 28 no último conclave de 2005, ou seja ¼ de todo o colégio), porque se contactam com mais frequência que os restantes, podem ter uma influência no desfecho de uma eleição superior ao seu número. É à internacionalização da Cúria no último terço do Século XX¹ que se deverá o aumento das probabilidades de eleição de papas não italianos. Mas não deixa de ser curioso assinalar que, ao contrário do que se pode ler, as probabilidades de eleição de um papa europeu aumentaram porque os cardeais dessa origem passaram, de 2005 para cá, de 50 para 60% do total dos membros do colégio. Mas o que parece o traço mais comum dos quinze últimos conclaves é como a inspiração do Espírito Santo (que alegadamente orienta a eleição dos cardeais) pôde ser tão circunstancial, a ponto de eleições separadas por escassos dois meses (Agosto e Outubro de 1978) terem tido desfechos tão diferentes. Conta-se a propósito dessa época que o Cardeal Casariego, um guatemalteco apartado um pouco daquelas coisas, perguntava à chegada: Ouvi falar de um cardeal chamado Bottiglia (garrafa) ou qualquer coisa parecida. Quem é ele? Pouco mais tarde, Karol Wojtyla, o tal Bottiglia, viria a ser eleito Papa…       
¹ Os cardeais oriundos da Cúria eram compostos por 90% de origem italiana no conclave de 1922 e ainda no de 1958, mas apenas por 32% no de 2005.

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