O F-106 Delta Dart foi um daqueles aviões emblemáticos da Guerra-Fria, era uma aeronave de intercepção concebida para abater os bombardeiros soviéticos no caso da eclosão de uma guerra nuclear como se vê na foto acima. Para isso, o F-106 fora concebido com capacidade de descolagem muito rápida, uma grande velocidade em voo, nomeadamente a ascensional, e um armamento poderoso, capaz de derrubar mesmo as grandes aeronaves inimigas.
Mas, para que isso fosse possível, não era um avião nem estável nem muito manobrável e quando, no pino de um dia do Inverno de 1970, um deles entrou em vrille, enquanto realizava exercícios sobre o Montana, o seu piloto tinha tão poucas hipóteses de corrigir a trajectória descendente que acabou por se ejectar do aparelho depois de ensaiar as manobras preconizadas para aquela situação de emergência. Só que, no caso, o aparelho acabou por sair espontaneamente da vrille…
As análises posteriores atribuíram o facto ao reposicionamento do centro de gravidade da aeronave provocada pela saída do piloto conjuntamente com a sua cadeira de ejecção. Sem ninguém a bordo, o avião continuou a perder altitude mas agora gradualmente e paralelo ao solo até vir a cair, com o trem de aterragem recolhido e com o motor ainda funcionando, num milheiral que estava por essa altura coberto de neve. Ali ficou, até ao combustível se esgotar, uma hora e 45 minutos depois.
O avião sem piloto acabou por realizar uma proeza que, estivesse ele a ser pilotado, mais provavelmente não seria bem sucedida. Reconhecendo a excepcionalidade do desfecho mas atravessando nós em Portugal uma situação excepcional, com alguns pilotos a darem a imagem de não fazer a mínima ideia daquilo que se propõem fazer (compare-se o que dizem em Março de 2012 e em Fevereiro de 2013), às vezes apetece desabafar: porque é que não se deixa o avião voar sozinho?...
Obs.: A parte final deste poste deve ser lida apenas pela laracha, que o poder político não é nenhum avião, tem aversão a vácuos, a ausências de pilotos e a povos que mais ordenam…
Em 14MAR2012 Gaspar afirmava:
ResponderEliminar"O cumprimento das obrigações que assumimos é essencial para garantir a solidariedade dos parceiros europeus. É um mecanismo de seguro quanto a desenvolvimentos desfavoráveis” .
Infelizmente, parece que vamos ter de accionar o seguro...
Ainda bem que temos vindo a pagar os prehmios! O que nao falta eh quem pretende-se falhar o pagamento logo da primeira mensalidade.
Não se resolve o irrealismo da actuação governamental contrapondo o irrealismo dos mais radicais de entre aqueles que criticam essa actuação.
ResponderEliminarSe os números que foram tornados públicos estiverem correctos, então os 78.000 M de € de empréstimos da troika(cerca de 47% do PIB) estão a ser remunerados a cerca de 3,6%/ano, o que corresponderá a um encargo próximo de 1,7% do PIB (47% x 3,6%). Só se a economia portuguesa crescer nominalmente mais do que esses 1,7% é que se poderá continuar a suportar sustentadamente a dívida. Segundo me pareceu, com uma contracção de 3,2% em 2012, outra prevista de 2% para 2013, isso está longe de parecer provável nos tempos mais próximos...
Os intervenientes institucionais (governo, troika) podem querer gerir a informação à opinião pública da forma que considerarem mais conveniente mas a aritmética é uma ciência lixada e algum dia vão ter que anunciar um "default" e que todos estes sacríficios não foram suficientes para o evitar... dando razão então a todos os que discordavam, não apenas aos críticos moderados, mas também aos que hoje proclamam "que se lixe a troika"!
Acresce a isso o epifenómeno tipicamente português de ter um "cromo" - pelo menos foi impingido como tal... - à frente da pasta das finanças, ungido pela sua competência, uma mais-valia nos foros internacionais. Para comparação, o seu homólogo irlandês é um "politicão" da velha escola que já fez de tudo, com passagens pelas pastas da Justiça, Saúde, Indústria, e que mesmo que não saiba o que é uma IS ou uma LM, parece ter a Irlanda no mesmo grau de enrascanço que o Portugal do Doutor Vítor Gaspar.
E pura e simplesmente não é compatível andar a promover a excelência de um académico colocado à frente da pasta das finanças que não acerta uma...
Eu sei que estah longe dos criticos radicais e tambem eu estou mais do que apreensivo relativamente a uma boa parte das politicas seguidas por este Governo (e, logo, pelo Gaspar).
ResponderEliminarO que nao consigo perceber eh a razao pela qual pessoas sensatas, inteligentes e informadas, comentam os dados que diariamente sao publicados como se pudessem ser outros. Nao sabiamos desde o inicio que iria ser assim? Nao sabemos todos que ha um conjunto de dados que continuarao necessariamente a agravar-se?
Alguem esperava que em dois anos (ou seis, que sejam) a divida externa podia diminuir ou mesmo estabilizar? Seria possivel travar o aumento do desemprego? Havia ou ha possibilidade de manter o nivel de despesa do estado?
Nao ha, portanto, razao para estranhar as dificuldades que estamos a suportar. A unica questao susceptivel de discussao (e que, aceito, nao eh um pormenor) eh o tempo e a dose. Podemos discordar da posologia, nao da terapeutica. Mas mesmo relativamente a esses aspectos, acho que so quem acompanha por dentro as negociacoes eh que pode avaliar que objeccoes eh que ja lavantamos e qual a receptividade que tiveram, e se poderiam ter sido mais, diferentes, ou apresentadas mais cedo...
Ja quanto ao acerto (ou desacerto) das projeccoes do Gaspar, acho um exagero sem nome que, no momento e conjuntura actuais (em que nao ha uma unica previsao de qualquer governo ou organizacao internacional que se confirme) lhe seja exigido que acerte ah decima e se comentem os desvios em termos percentuais.
No que concerne ah nossa capacidade de pagar os juros do emprestimo da Troika, convira nao esquecer que esses 78MM sao apenas uma parte da nossa divida. Sera que os juros da parte restante, que eh bem maior, sao inferiores? E, em qualquer caso, quem eh que solicitou e negociou uns e outros? Esta historia dos juros assemelha-se ahs PPP. A falta de decoro e de vergonha leva os responsaveis por aqueles "negocios" a estarem entre os que, na primeira linha, exigem agora a renegociacao. Ha 20 meses atras, contra tudo e contra todos (com a divida ja na casa dos 100%), continuavam a fechar negocios de TGVs e autoestradas em triplicado.