Uma coisa que me aborrece é ler crónicas em jornais quando se referem a antigas séries televisivas norte-americanas cujo sucesso no país de origem nunca se reproduziu por cá. O texto acima à esquerda, a respeito da actriz que lhe dá o nome e de uma dessas séries, Mary Tyler Moore, é uma tradução ligeiramente adaptada do que será um texto original norte-americano e nele se gaba o sucesso televisivo e as implicações sociológicas profundas que a série terá tido na América. O autor-tradutor português, Jorge Mourinha (nascido em 1968), dá-nos a nota de que a série recebeu em Portugal o título de As Solteironas. Mas ficou-se por aí na transposição do que é americano para o que é português. É pouco e é pena. Caso se tivesse aplicado, poderia ter investigado e constatado (já que era muito novo para ter memória directa) que a série, apesar de ter sido transmitida durante um ano, de Outubro de 1973 a Setembro de 1974, teve uma divulgação restrita, pois era transmitida aos Domingos à noite (20:30) e no 2º programa - a actual RTP 2. (lembre-se que a RTP 2, que emitia em UHF, só atingia então cerca de 30 a 35% da população do país - veja-se o mapa abaixo) Portanto, a narrativa da actriz e da série Mary Tyler Moore que se pode ler no artigo que o Público de hoje publica, não tem qualquer correspondência com o que aconteceu por cá. Nem sequer o sucesso das sete temporadas (1970-77) que a série durou na América. A nossa sociedade era completamente diferente e continua a sê-lo. Simbolicamente, o artigo é ilustrado por uma cena do último episódio que - lê-se na legenda - foi transmitido em 19 de Março de 1977. Ora, para vermos a que distância estivemos das sensibilidades televisivas norte-americanas dessa época, a programação da RTP para esse mesmo Sábado era dominada pela série Espaço: 1999. E essa, para os que têm idade para se lembrarem dela, essa outra série, porque foi realmente popular entre nós, creio que não precisa de explicações a justificarem-lhe a importância...
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