«Se a Guerra começar amanhã» (Yesli zavtra voyna) é um filme soviético, estreado em Fevereiro de 1938, e que concebido e realizado por um colectivo de cineastas encabeçado por Efim Dzigan. É um filme de propaganda de época, com um trecho musical marcante que se repete, que está vocacionado para perdurar no ouvido. Tem uma duração de pouco mais de uma hora. Por curiosidade, acrescente-se que este mesmo filme havia sido seleccionado para representar a União Soviética no primeiro Festival de Cannes, que se estava marcado para se realizar em Setembro de 1939, e que foi cancelado devido à eclosão da Segunda Guerra Mundial. O filme soviético teria vindo a propósito porque a história que conta é uma hipotética história de guerra.
Mostra a heróica reacção soviética a um ataque militar de uma potência imperialista capitalista que se consegue facilmente identificar como sendo a Alemanha. Porque o filme tem a duração de apenas uma hora a guerra não é muito prolongada e a trama não é complexa. No filme, para além do povo heróico, aparecem dirigentes soviéticos verdadeiros: o incontornável Staline, o comissário para a Defesa Voroshilov, o marechal Budienny, que irá encabeçar a carga de cavalaria conducente ao vitorioso desfecho final. Mas é Voroshilov quem aparece, a certa altura, a transmitir a mensagem essencial do filme: «Se nos impuserem uma guerra, ela não se travará no nosso solo soviético, mas no território daqueles que ousaram desembainhar a espada em primeiro lugar».
No futuro mais imediato, os acontecimentos descritos no filme is-se-ão consubstanciar dali por dois anos, em Junho de 1941, quando a Alemanha invadir realmente a União Soviética (Operação Barbarossa (1)(2)). Infelizmente para os russos, o enredo da realidade divergirá do narrado pelo filme: irão decorrer três longos anos (1941-44), até que a guerra chegasse ao «território daqueles» que haviam «desembainhado a espada em primeiro lugar». Mas o que nos interessa para o caso é a História recente, a da invasão russa da Ucrânia de 2022, e a constatação de como a narrativa russa não evoluiu nestes 83 anos. Seja qual for a sua extensão geográfica, a Rússia tem sempre vizinhos ameaçadores que lhe impõe guerras. E os russos preferem travá-las sempre em território alheio, quando podem...
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