Herman Kahn (1922-1983) foi originalmente um físico norte-americano, posteriormente tornou-se um dos cérebros da RAND Corporation, onde se veio a notabilizar pelos seus trabalhos de geoestratégia e de teoria sistémica, nomeadamente no campo da antecipação do que poderiam ser os conflitos nucleares futuros. O seu trabalho de maior impacto foi publicado em 1960 e intitula-se «On Thermonuclear War» (A respeito da Guerra Nuclear). A forma analítica e distanciada como Kahn analisa naquele livro as consequências de um apocalipse nuclear granjearam-lhe uma reputação tal que a sua pessoa acabou parodiada no filme Dr. Strangelove de 1964, na figura da personagem sinistra que dá o nome ao filme. Mas a sua valia académica permaneceu intocada.
Contudo, na altura em que o jornal acima foi publicado - 28 de Junho de 1973 - já os alicerces da sua notoriedade haviam mudado para outra especialidade. A partir de 1961, Herman Kahn, com alguns dos seus colegas, haviam fundado um outro instituto, o Hudson Institute, organização vocacionada para a futurologia. É nessas funções de guru reputado que vemos Herman Kahn a ser entrevistado pelo jornalista Nuno Rocha do Diário de Lisboa, com uma chamada de primeira página, depois desenvolvida numa página interior inteira. A curiosidade é que as profecias de Kahn apontam para o ano em curso, 2023, e, do que aparece destacado, está quase tudo errado: a URSS desagregou-se há mais de 30 anos e, ainda pior, não atribui qualquer importância à ascensão da China.
Sobre as teorias do comportamento dos beligerantes durante um conflito nuclear, as ideias de Herman Kahn nunca foram - felizmente! - testadas até agora. Mas, como futurólogo, as suas ideias vieram a revelar-se um completo fiasco!
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