10 junho 2023

O PRIMEIRO «DEZ DE JUNHO»

10 de Junho de 1963. Têm lugar, pela primeira vez, as cerimónias de imposição de condecorações aos combatentes no Terreiro do Paço, diante de um dispositivo de tropas e com a transmissão directa pela RTP da hora e meia da cerimónia. Esta primeira edição da comemoração do Dia de Portugal com este figurino de parada militar e transmissão televisiva em directo teve o patrocínio privilegiado do exército (como se lê no título acima), contando com uma «alocução» do seu chefe de Estado-Maior, general Câmara Pina e, durante a cerimónia, apenas foram condecorados militares do exército que se haviam distinguido predominantemente em operações em Angola. (Na Índia o conflito terminara, na Guiné ainda estava numa fase embrionária, em Moçambique ainda nem começara).
A cerimónia, onde o chefe do Estado (Tomás), o chefe do governo (Salazar) e outras altas entidades condecoravam os militares, alguns deles a título póstumo (com o agraciado a ser representado por um familiar próximo), continha uma forte carga emocional e revelou-se um enorme sucesso político para o regime. Passou a repetir-se naquele mesmo figurino todos os feriados do 10 de Junho, embora, a partir daí, com uma presença mais equitativa dos outros ramos das Forças Armadas, Marinha e Força Aérea. Naquele tempo parecia(-me) muito importante mas, no total, acabaram por se realizar apenas onze cerimónias do género, desde esta que hoje evoco, a 10 de Junho de 1963, até à de 10 de Junho de 1973, dez anos depois. Como o próprio problema político que lhe estava subjacente, as guerras em África, para as quais não parecia haver solução à vista, também a cerimónia do 10 de Junho nos últimos anos já perdera aquele seu efeito galvanizador inicial, e realizava-se por inércia, porque tinha de se realizar e mal seria se não existisse.

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