07 junho 2023

«CHARME» SOVIÉTICO

7 de Junho de 1983. Num banquete de gala oferecido no dia anterior em Moscovo ao presidente da Finlândia, o secretário-geral do PCUS, Yuri Andropov, fizera um discurso anunciando que o seu país se dispunha a retaliar contra aqueles países da Europa que se dispusessem a acolher no seu território misseis de cruzeiro norte-americanos e Pershing II. A NATO anunciara que esses mísseis seriam destinados a fazer a sombra dos mísseis SS-20 que a União Soviética estava a instalar do seu lado da Cortina de Ferro. O desagrado de Moscovo de há muito já se manifestara pelos canais diplomáticos tradicionais, mas este recado fora criteriosamente preparado para as opiniões públicas ocidentais. A este crescendo de tensão entre blocos, depois do degelo dos anos 70, dá-se o nome de «Crise dos Euromísseis». Todavia, o que é importante nesta evocação é recordar este modo agressivo, mesmo intimidatório, como os russos se dirigiam publicamente aos países da Europa ocidental que haviam decidido acolher aqueles sistemas: Grã-Bretanha, Alemanha Ocidental, Itália, Países Baixos e Bélgica. Era um meio de combate em que os países comunistas tiravam vantagem, já que a "opinião pública" a Leste só sabia (oficialmente) aquilo que a comunicação social controlada era autorizada a publicar. A Guerra-Fria terminou há mais de 30 anos, mas estas circunstâncias e estes episódios deixam o seu rasto: quando Vladimir Putin se comporta internacionalmente de maneira reminiscente à dos seus antecessores soviéticos, as simpatias dos países da Europa vão instintivamente para quem estiver do outro lado.

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