02 junho 2023

E QUEM É QUE ESCRUTINA O RIGOR DAS ASSERÇÕES DO POLÍGRAFO?

Este verificação da declaração acima de Luís Montenegro é mais um exemplo daqueles exercícios de manipulação do leitor de que eu já aqui havia referido no Herdeiro de Aécio. Para além da teoria, fui dando um ou outro exemplo prático de falta de rigor no processo: seja porque a validação dada pelos autores destas rubricas estão erradas (a Roménia não vai ultrapassar Portugal no PIB per capita já em 2024); seja pela sua demissão da função, não fazendo nem tentando responder à pergunta, quando o assunto não lhes interessa ou lhes pode ser incómodo (em que hospital é que nasceu o primeiro bebé de 2023, quando há dois jornais que publicam notícias contraditórias?) Existe ainda uma terceira maneira de aldrabar/evadir os tópicos: não escrutinando o que se analisa. No caso ilustrado acima, em que se avalia a veracidade de uma comparação feita numa entrevista recente por Luís Montenegro, entre o resultado eleitoral do PS mas eleições de Janeiro de 2022 (42%) com as «sondagens actuais» (menos de 30%), quase passa desapercebido um significativo erro de forma: estão-se a comparar dados de natureza muito diferente! Umas eleições são uma eleições, e as sondagens são apenas sondagens - e quem quer comparar dois fenómenos, tem de os comparar quando são de natureza semelhante.
Ora se existiu uma grande lição que se devia ter tirado dessas últimas eleições legislativas, foi o grande fiasco de toda a comunicação social, que passou todo o período da campanha eleitoral a puxar por um cenário em que o desfecho estaria muito disputado entre o PS e o PSD. E porque estas ocorrências se encontram agora mesmo à mão de semear, insiro acima um artigo publicado na revista Visão três dias antes das eleições em que são mencionadas duas grandes e importantes sondagens em que o PS, com 35 e 36%, se superioriza apenas marginalmente ao PSD. Eram estas as sondagens em Janeiro de 2022 e são elas que devem ser comparadas com as actuais, as de Maio de 2023. É que, comparando o que deve ser comparado, o PS «cai de 35 ou 36% para menos de 30%». É aceitável que Luís Montenegro tenha ido para a entrevista sem quaisquer preocupações de rigor, ele apenas procura retirar o maior efeito possível das suas frases. Mas não é aceitável que quem quer passar por escrutinador da validade do que Luís Montenegro disse (que classifica de verdadeiro) não assinale, pelo menos, o seu erro de forma: o de comparar directamente resultados eleitorais - que envolvem milhões de eleitores - com meras sondagens (de centenas ou poucos milhares de entrevistados). E isso, em rigor (e é de rigor que aqui se está a falar), é manipulação. Para mais, e até prova positiva em contrário, depois do que aconteceu em Janeiro do ano passado, os centros de sondagens parecem não fazer uma mínima ideia rigorosa do que é que os portugueses politicamente podem pensar.

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