Tem vezes em que a leitura do título de uma pequena notícia de outrora desencadeia-nos um flash que sintetiza tudo aquilo que uma parte dos comentadores se afadiga em recordar, com pouco sucesso. É o caso desta notícia de 30 de Junho de 1973 que, com algum exagero, pretende retratar o estado de espírito dos republicanos à medida que se sabiam mais e mais pormenores sobre o caso Watergate, pormenores que enredavam cada vez mais o presidente Richard Nixon. Os republicanos, ou, pelo menos, a sua liderança, não estariam «aterrados» como se escreve na notícia, mas o seu incómodo era crescente, à medida que as revelações traçavam um retrato cada vez menos lisonjeiro (para não dizer mais...) do ocupante da Casa Branca. Reconheça-se que o Caso Watergate criou uma cultura obsessiva dos gates, o sufixo aplicado a qualquer escândalo noticiado, independentemente da sua relevância e importância. E que, por causa dessa banalização os poderes estabelecidos aprenderam a criar uma blindagem contra pedidos de demissão por dá cá aquela palha. Só que agora atingimos um extremo absurdo em que nada na conduta dos responsáveis é condenável, porque esse reconhecimento poderá prejudicar o prestígio da organização de que faz parte. Se em 1973 eles não estavam aterrados, os republicanos de 2023 também não podem fingir passar por tranquilos, pretendendo que tudo aquilo que se tem vindo acumulativamente a saber sobre Donald Trump não lhes irá afectar o prestígio.
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