31 outubro 2007

A BANDA DE UHF E O MÍTICO SEGUNDO CANAL - 1

Sem querer descrever aqui a história da televisão, as primeiras estações de televisão que apareceram (também a RTP), emitiam na banda de VHF. Os primeiros televisores que se vendiam possuíam apenas um selector (em forma de roda) para seleccionar o canal da emissão (numerados de 2 a 13, salvo erro): o do emissor da RTP para a região de Lisboa (que estava – e se mantém – em Monsanto) era o 7. E era naquele número que ficava o selector, quieto para sempre a partir daí, que o grande problema de recepção daqueles tempos era a instalação da antena para a captação de uma boa imagem…

Entretanto, nos finais da década de 60 (1968), também Portugal seguiu a moda da criação de um 2º canal aproveitando a banda de UHF (canais do 14 ao 69). A ideia, suponho eu, seria a de promover a criação de um canal mais dirigido às elites, à semelhança do que acontecia com a rádio, onde a designada Emissora 2 só transmitia música clássica. Por isso as emissões desse segundo canal (em condições iguais, o alcance das emissões em UHF é menor dos que as de VHF) restringiram-se inicialmente à Grande Lisboa, e foram mais tarde (1970) alargadas ao Grande Porto.
Lembro-me que me ficava uma certa sensação de frustração, por ter ao alcance da mão um outro programa de televisão que não podia ver por limitações técnicas: a televisão lá de casa só podia captar emissões em VHF. Mas, na realidade, no que diz respeito aos conteúdos (como actualmente se diz), a televisão daquela época não tinha capacidade para preencher os tempos de emissão de um canal, quanto mais de dois… A realidade (que eu não reconhecia) é que o elitismo desse 2º canal se resumia a uma mera repetição do fora transmitido no 1º canal nos dias anteriores.

Aliás, para reforçar uma imagem do que era panorama televisivo da época, o livro de que me socorro para algumas precisões adicionais, como o facto das emissões o 2º canal usarem o canal 25 de UHF (Vamos Falar de Televisão de Lopes da Silva e Vasco Hogan Teves) e terem sido inauguradas em 25 de Dezembro de 1968, serve-me para recordar como, em 1970, eram grandes feitos a abertura de um período de emissão à hora de almoço (das 12H45 às 14H30!) ou o aumento do período de emissão do 2º canal por antecipação de uma hora a hora da sua abertura - das 21H30 para as 20H30…
Mas não há racionalidade que substitua a cobiça por algo que parece estar ao alcance do dedo do interruptor (muito antes dessa invenção civilizacional chamada telecomando…) mas que afinal é inalcançável... Até que, passados uns anos, por ocasião de um aniversário, tive direito a receber uma prenda verdadeiramente memorável: uma televisão pequena, portátil (a pega, como a da televisão da fotografia acima, ajudava a criar essa ilusão, que o peso do aparelho destruía imediatamente, quando lhe pegávamos…), de antena interior, e que, sobretudo, também tinha capacidade para captar emissões em UHF...

Ia finalmente poder ver o 2º canal! Imaginem a minha desilusão quando me apercebi que as explicações que recebera na loja para o sintonizar estavam erradas… O vendedor explicara (ou eu entendera) mal e vicissitudes várias fizeram com que durante uma semana não me fosse possível voltar a loja. Durante essa comprida semana, fiquei servido de 1º canal, mas de 2º, não houve horas de tentativas que resolvessem o problema… Finalmente, tudo se resolveu e no momento histórico em que sintonizei o 2º canal descobri que afinal a emissão era igualzinha à do 1º - estava a dar o telejornal, que era transmitido em simultâneo pelos dois…

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