
Voltando ao passado, à segunda metade da década de 80 e aos princípios da de 90, a selecção que eu considerava que tinha o jogo mais bonito (e mais espectacular) era a selecção francesa, por causa da imprevisibilidade do jogo à mão das suas linhas atrasadas. Era um gosto apreciar as jogadas à mão quando a bola chegava à linha de três quartos da França (com Philippe Sella) onde se intercalava depois o defesa Serge Blanco (em baixo, à direita, com Sella) a desequilibrar as marcações. Mas não era só a França. Era uma época onde o râguebi podia ser espectacular pela criatividade dos protagonistas (!!!) de que o exemplo maior terá sido, talvez, o australiano David Campese, a estrela do Mundial de 91.

Conseguir placar alguém com o arcaboiço de um avançado mas com a destreza e rapidez de um jogador tradicional das linhas atrasadas revelou-se algo de insuperável para os defensores das equipas adversárias, mesmo quando o campeonato passou para a fase a sério em que a Nova Zelândia defrontou as equipas com pretensões como a Escócia (nos quartos de final) ou a Inglaterra (nas meias finais). É que Jonah Lomu, com aquele corpanzil, nem tinha jeito para fazer fintas de corpo para evitar as placagens de quem o quisesse deter, conforme era tradicional: ele corria directamente na direcção do opositor para o cilindrar com o poder de choque dos seus 120 Kg…

A bola entrou e foram mais 3 pontos para a Nova Zelândia. Convém esclarecer que as boas regras mandam marcar em cima os bons pontapeadores que haja na equipa adversária, normalmente o médio de abertura (nº 10), às vezes também o defesa (nº 15) ou o médio de formação (nº 9)… Agora, realmente, só nos All Blacks é que, num dia assim, pode haver jogadores da avançada (o nº 8) que decidem tentar converter pontapés de ressalto àquela distância dos postes… e convertem-nos! Foi um jogo espectacular que terminou com 9 ensaios (6 neozelandeses e 3 ingleses), em contraste com o jogo fechado e táctico (só 1 ensaio) com que a África do Sul bateu a França na outra meia-final.

Desportivamente, o jogo não prestou para nada. Como aconteceu com os gregos na final Portugal – Grécia do Euro 2004 em futebol, também os sul-africanos adoptaram um dispositivo defensivo que estragou totalmente a espectacularidade do jogo, concebido para que a supremacia neozelandesa não pudesse sobressair. Jonah Lomu passou o jogo acompanhado de perto por três amigos sul-africanos que se precipitavam para ele ao mesmo tempo que ele recebia a bola… No fim, após prolongamento, a África do Sul ganhou o jogo, decidido a pontapés aos postes (5 a 4, nenhum ensaio...), a cerimónia final foi muito emocionante quando Mandela entregou a Taça a Pienaar (acima), mas ainda hoje penso que o título ficou mal entregue…

Notas Finais: Os Pumas são os jogadores da Selecção argentina, os All Blacks da neozelandesa e os Springboks da sul-africana. E continuo a contar-me entre os menos entendidos no râguebi que mantiveram a opinião que a prestação da selecção portuguesa neste Mundial nunca excedeu o que seria normal esperar dela, quer quanto aos resultados, com 4 derrotas, quer quanto às dimensões que elas assumiram (10-56, 13-108, 5-31 e 10-14). O resto é folclore.
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