30 outubro 2007

ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE OS MODERNOS CONFLITOS AFRICANOS

Na história dos conflitos dos últimos 50 anos do continente africano, que actualmente conta com 53 países independentes, torna-se surpreendente constatar como foram muito minoritários os casos em que essas independências foram alcançadas através da luta armada, na esmagadora maioria das vezes através da guerra subversiva – houve 9 casos, estando um deles, o do Sahara Ocidental, ainda hoje por resolver. Ainda mais raros (apenas 4), foram os casos em que os nacionalistas que travaram essas lutas armadas se desdobravam por mais de um movimento político-militar.
Como seria de esperar, depois da obtenção das independências, também já houve guerras civis em vários países (10), mesmo contando exclusivamente aquelas que foram mais prolongadas e significativas e descontando as escaramuças que não passaram de golpes ou tentativas de golpe de estado que demoraram um pouco mais tempo a resolver… Contudo, não se devem confundir essas guerras civis com os casos das guerras separatistas em que os promotores pretendem alcançar a independência de uma parcela do território nacional (5), normalmente rica numa das matérias primas.
Procurando traçar uma sequência geral, às guerras de libertação contra as potências coloniais das décadas de 50 e 60, terminando nos anos 70, seguiram-se as guerras civis que começaram nessa mesma década e se prolongaram pelas de 80 e 90. À disciplina militar e ao rigor da formação ideológica dos movimentos mais antigos seguiram-se a constituição de organizações com muito menos coesão interna e, por isso, potencialmente muito mais lesivas para os não beligerantes. Também os locais dos conflitos deixaram os campos para se tornaram predominantemente urbanos.
As fotografias insertas neste poste procuram dar expressão a essa evolução. Referem-se a militares do PAIGC (Guiné-Bissau) e da ZAPU (Zimbabué), em fases de guerras de libertação das décadas de 60 e 70, a um outro do MPLA (Angola), numa fotografia já por mim gabada num poste anterior, datada de 1975, tirada numa fase de transição da guerra de libertação para a guerra civil, e finalmente fotografias de duas fases das guerra civis do Congo e da Libéria, já da década de 90, depois do fim da Guerra-Fria, onde suponho que o nome das organizações a que os combatentes possam pertencer já não tem qualquer relevância…
Não será propriamente uma distinção, mas vale a pena relevar a coincidência de que Angola é o único país africano que aparece em todas as listas das categorias de conflitos acima mencionadas... Foi um dos países que acedeu à independência depois de uma guerra de libertação porque pertencia ao império colonial português. O conflito foi desencadeado por um movimento com apoio ocidental, o que subvertia a lógica da guerra-fria e levou o bloco soviético a patrocinar o seu próprio movimento, o que levou à multiplicidade de movimentos político-militares nacionalistas.
Chegados à independência (1975), o conflito entre os vários movimentos nacionalistas transferiu-se para uma guerra civil entre eles que perdurou, de forma descontínua, durante os 27 anos seguintes. Entretanto, durante esse período, a situação do enclave de Cabinda, que faz parte de Angola, mas que está geograficamente separado do resto do território e cuja plataforma continental é rica em petróleo, tornou-se politicamente disputada, com algumas das facções locais mais extremistas (FLEC) a defenderem de armas na mão a sua independência de Angola.

E é credível que muitos destes acontecimentos apenas se verificaram porque é defensável que Angola seja o país mais rico de África em recursos naturais… Às vezes é preciso ter azar…

Sem comentários:

Enviar um comentário