Guardei de Manuela Arcanjo uma imagem globalmente simpática. Foi uma secretária de estado do orçamento que se indispôs com o ministro da tutela (Sousa Franco) que também era reputado pelo seu mau feitio, possivelmente embriagou-se com essa imagem de mau feitio eficaz que lhe colaram quando aceitou a pasta da saúde oferecida por Guterres, porque a missão de disciplinar financeiramente o sector a que se propusera terminou num lamentável fiasco, como foi reconhecido pela própria. A ingenuidade política e pessoal de Manuela Arcanjo voltou a revelar-se quando submeteu os seus interesses pessoais, quando à oportunidade de renunciar à pasta, aos interesses do primeiro-ministro (Guterres) que, descaradamente, não lhe retribuiu na mesma moeda, quando a substituiu por Correia de Campos sem lhe dar conhecimento.
Poderá ser por vingança, mas prefiro pensar que será por causa daquela mesma ingenuidade que tantos dissabores já lhe causou que Manuela Arcanjo se prestou a servir agora de arma de arremesso da Ordem dos Médicos ao emprestar o seu nome às críticas daquele organismo à instalação dos famosos sistemas de controlo biométrico de presenças. O teor das suas afirmações parece-me verdadeiro e motivo de reflexão: Há no despacho (do secretário de estado da saúde) uma ideia singela, simplista e básica de que há um aumento automático de produção devido ao aumento do número de horas, com o mesmo número de profissionais. Omite-se todo o outro conjunto de factores que influencia a produtividade médica. E rematou, com uma expressão erudita daquelas só para economista perceber: rendimentos marginais decrescentes…
Só que o que me parece estar em causa, e a incomodar sobremaneira Pedro Nunes e a sua organização sindical com outro nome, não tem nada a ver com a produtividade das horas de presença dos seus associados, mas sim com a existência de um sistema que parece obrigar (ou, pelo menos, torna mais difícil aldrabar) o cumprimento efectivo das horas que hoje estão acordadas nos contratos entre os médicos e as suas entidades empregadoras: 35. Para quem não tenha reparado isso representa o equivalente à carga diária de 7 horas de trabalho* - que é o padrão normal de um trabalhador de escritório. Hipoteticamente, perguntemos ao conjunto de trabalhadores de escritório quantos deles se disporiam a acumular outro emprego (e por quanto…) e comparemos essas respostas com o que se passa com os profissionais de saúde…
Tantos milagres dos trabalhadores com múltiplos empregos e horários acumulados de 70 e mais horas semanais costumam ter explicações mais prosaicas para a sua realização do que o milagre, e essas costumam ser tradicionalmente lesivas para uma das entidades empregadoras… E, nessas circunstâncias, sistemas de controlo de assiduidade como este, que obriguem ao cumprimento do contrato numa das entidades, obrigará ao incumprimento na outra… Se for tudo a sério, as acumulações são só para aqueles que têm mesmo grande capacidade de trabalho, porque ou se está num lado ou noutro, ou se trabalha na medicina pública ou na privada. Esse é o problema essencial. O que me surpreende nisto, descabido qual viola num enterro, são as considerações técnicas de uma ex-ministra fazendo uma tangente obtusa ao cerne do problema. Ocupou mesmo a pasta da saúde, Manuela Arcanjo?
* Embora, por efeitos do cumprimento dos bancos, a distribuição horária seja diferente.
Poderá ser por vingança, mas prefiro pensar que será por causa daquela mesma ingenuidade que tantos dissabores já lhe causou que Manuela Arcanjo se prestou a servir agora de arma de arremesso da Ordem dos Médicos ao emprestar o seu nome às críticas daquele organismo à instalação dos famosos sistemas de controlo biométrico de presenças. O teor das suas afirmações parece-me verdadeiro e motivo de reflexão: Há no despacho (do secretário de estado da saúde) uma ideia singela, simplista e básica de que há um aumento automático de produção devido ao aumento do número de horas, com o mesmo número de profissionais. Omite-se todo o outro conjunto de factores que influencia a produtividade médica. E rematou, com uma expressão erudita daquelas só para economista perceber: rendimentos marginais decrescentes…
Só que o que me parece estar em causa, e a incomodar sobremaneira Pedro Nunes e a sua organização sindical com outro nome, não tem nada a ver com a produtividade das horas de presença dos seus associados, mas sim com a existência de um sistema que parece obrigar (ou, pelo menos, torna mais difícil aldrabar) o cumprimento efectivo das horas que hoje estão acordadas nos contratos entre os médicos e as suas entidades empregadoras: 35. Para quem não tenha reparado isso representa o equivalente à carga diária de 7 horas de trabalho* - que é o padrão normal de um trabalhador de escritório. Hipoteticamente, perguntemos ao conjunto de trabalhadores de escritório quantos deles se disporiam a acumular outro emprego (e por quanto…) e comparemos essas respostas com o que se passa com os profissionais de saúde…
Tantos milagres dos trabalhadores com múltiplos empregos e horários acumulados de 70 e mais horas semanais costumam ter explicações mais prosaicas para a sua realização do que o milagre, e essas costumam ser tradicionalmente lesivas para uma das entidades empregadoras… E, nessas circunstâncias, sistemas de controlo de assiduidade como este, que obriguem ao cumprimento do contrato numa das entidades, obrigará ao incumprimento na outra… Se for tudo a sério, as acumulações são só para aqueles que têm mesmo grande capacidade de trabalho, porque ou se está num lado ou noutro, ou se trabalha na medicina pública ou na privada. Esse é o problema essencial. O que me surpreende nisto, descabido qual viola num enterro, são as considerações técnicas de uma ex-ministra fazendo uma tangente obtusa ao cerne do problema. Ocupou mesmo a pasta da saúde, Manuela Arcanjo?
* Embora, por efeitos do cumprimento dos bancos, a distribuição horária seja diferente.
Neste blogue acerta-se em tudo, qual Guilherme a disparar sobre a maçã.
ResponderEliminarFaltam os números do euromilhões desta semana, João Moutinho... Aí é que as visitas ao blogue subiam exponencialmente...
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