28 outubro 2007

QUERER SER CALIFA NO LUGAR DO CALIFA

Em política, pode haver intenções proclamadas que, quando bem analisadas, valem por centenas de promessas de campanha e outras dezenas de acções de promoções de imagem de um protagonista ambicioso. A forma como Luís Filipe Menezes e os que o rodeiam parecem estar a lidar com o problema da substituição do lugar de conselheiro de estado que foi recentemente deixado vago por Luís Marques Mendes parece ir muito para além da inconveniência política de quem se vê bloqueado por uma contrariedade legal.

Em síntese, o que se passa é que, como seria natural, estão previstas regras para a substituição dos cargos a que Luís Marques Mendes entretanto renunciou. Foi o caso do cargo de deputado na Assembleia da República. Será também o caso do lugar de conselheiro no Conselho de Estado que rodeia o Presidente da República. As regras em vigor asseguraram a entrada de um novo deputado para a bancada do PSD, outras regras também em vigor assegurariam a entrada de António Capucho como novo conselheiro.

Só que Luís Filipe Menezes está interessado em ocupar este último cargo… Como se soluciona o problema? Aparentemente, mandam-se as regras às urtigas…e vale a pena acompanhar, através de um jornal, a ofensiva montada pela sua equipa para se apoderar do lugar. Anteontem, uma notícia não assinada do Diário de Notícias afirmava em título, assertiva, que Menezes vai entrar no Conselho de Estado. No miolo da notícia percebia-se que terão que ser ultrapassados alguns obstáculos jurídico-políticos.
Mas parecia estar tudo previsto: ou passaria pela alteração do próprio estatuto, que já data de 1984 (os estatutos podem ser sólidos e estar bem redigidos, mas parecem ter datas de validade, como as latas de sardinhas…), ou Menezes entraria na "quota" dos membros que são escolhidos pelo PR, o que é um verdadeiro cenário de ficção (há muito que Cavaco Silva já anunciou publicamente quem são os cinco conselheiros que escolheu pessoalmente…), num detalhe pouco abonatório da cultura política do jornalista que se dispôs a transmitir este recado…

A resposta de António Capucho apareceu ontem no semanário Sol (não disponível) e sintetiza-se na frase Nem se coloca a questão de ceder o lugar ao presidente do partido. Menezes e a sua rapaziada entraram em órbita… Mas, se calhar, já devem ter percebido que devem inflectir no discurso, que não são favas contadas, e o artigo de hoje do mesmo Diário de Notícias (agora assinado: Francisco Almeida Leite) já é muito menos assertivo do que o anterior: Lei pode ser alterada para Menezes entrar. O busílis é mesmo a entrada de Menezes.

O enfoque desta nova notícia transferiu-se agora para a vontade presidencial: segundo a vontade expressa deste de ver ali representado o líder do maior partido da oposição… Então não se está mesmo a ver Cavaco a querer ver Menezes?... Mais a sério, o que está aqui em causa é pouco ou coisa nenhuma: substancialmente, trata-se da possibilidade de Luís Filipe Menezes mandar os seus palpites numa reunião magna no Palácio de Belém, palpites a que Cavaco Silva (possivelmente) não vai (nem tem que) passar cartão nenhum…

Mas a sanha aqui demonstrada por Menezes e a respectiva sua maralha, dispondo-se a cilindrar as regras existentes pela aquisição de cargos que têm apenas visibilidade e quase nenhuma substância política, perturba-me quanto aos limites que estarão dispostos a atingir quando estiverem em jogo interesses que lhes sejam relevantes… Ou então, eles não sabem fazer a distinção entre uns cargos e outros, o que é motivo de outras preocupações… Mas, pelos vistos, também não posso contar com este estilo de jornalismo para me tirar as dúvidas…

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