Se é preciso uma explicação para o facto de assumir a pasta da Defesa Nacional mesmo antes da remodelação do Governo que se verificará a seguir, a explicação pode concretizar-se numa palavra e essa é ANGOLA.
Pareceu que a concentração de poderes da Presidência do Conselho e da Defesa Nacional, bem como a alteração de alguns altos postos noutros sectores das Forças Armadas, facilitaria e abreviaria as providências necessárias para a defesa eficaz da Província e a garantia da vida, do trabalho e do sossego das populações.
Andar rapidamente e em força é o objectivo que vai pôr à prova a nossa capacidade de decisão.
Como um só dia pode poupar sacrifícios e vidas, é necessário não desperdiçar desse dia uma só hora para que Portugal faça todo o esforço que lhe é exigido a fim de defender Angola e com ela a integridade da Nação.
António de Oliveira Salazar, 14 de Abril de 1961
Retirei este discurso de Angola, os dias do desespero, 14º Edição, de Horácio Caio, o jornalista da RTP que esteve presente em Angola em 1961 e que fez parte da equipa que recolheu a grande maioria do material filmado que foi apresentado no primeiro episódio de A GUERRA, de Joaquim Furtado, hoje transmitido pela RTP1. O próprio Horácio Caio foi um dos entrevistados e, dadas as coincidências, muito possivelmente o próprio Joaquim Furtado ter-se-á orientado por alguns dos aspectos focados no livro para a realização do seu trabalho.
Embora não directamente mencionado naquele programa, mas óbvio pelo decorrer da própria narrativa, o que se torna absolutamente inexplicável é a inépcia política que permitiu que, num ambiente previsivelmente tenso como era o africano dos inícios da década de 60, o poder político não se tivesse preparado e tivesse mesmo sido colhido com aquele grau de surpresa perante a subversão e que o dispositivo militar português na província agrícola mais rica do território ultramarino mais rico fosse…praticamente nulo. Mesmo à distância de 46 anos ainda é possível identificar uma asneira política colossal...
Mas não. Passado um mês, é com este discurso escorreito e muito bem redigido (como era seu timbre) que reaparece Salazar, fresquinho, aparentemente impoluto e desresponsabilizado, como se a responsabilidade pelos acontecimentos terem corrido daquela forma desastrada não lhe pertencesse: poucos planos de contingência havia e quase tudo teve que ser improvisado. É, de facto, mais fácil fugir-se às responsabilidades em ditadura e, valha o desabafo, que contraste o deste programa de Joaquim Furtado com os relatos hagiográficos (e outros) de Salazar de programas anteriores da mesma RTP.
Pareceu que a concentração de poderes da Presidência do Conselho e da Defesa Nacional, bem como a alteração de alguns altos postos noutros sectores das Forças Armadas, facilitaria e abreviaria as providências necessárias para a defesa eficaz da Província e a garantia da vida, do trabalho e do sossego das populações.
Andar rapidamente e em força é o objectivo que vai pôr à prova a nossa capacidade de decisão.
Como um só dia pode poupar sacrifícios e vidas, é necessário não desperdiçar desse dia uma só hora para que Portugal faça todo o esforço que lhe é exigido a fim de defender Angola e com ela a integridade da Nação.
António de Oliveira Salazar, 14 de Abril de 1961
Retirei este discurso de Angola, os dias do desespero, 14º Edição, de Horácio Caio, o jornalista da RTP que esteve presente em Angola em 1961 e que fez parte da equipa que recolheu a grande maioria do material filmado que foi apresentado no primeiro episódio de A GUERRA, de Joaquim Furtado, hoje transmitido pela RTP1. O próprio Horácio Caio foi um dos entrevistados e, dadas as coincidências, muito possivelmente o próprio Joaquim Furtado ter-se-á orientado por alguns dos aspectos focados no livro para a realização do seu trabalho.
Embora não directamente mencionado naquele programa, mas óbvio pelo decorrer da própria narrativa, o que se torna absolutamente inexplicável é a inépcia política que permitiu que, num ambiente previsivelmente tenso como era o africano dos inícios da década de 60, o poder político não se tivesse preparado e tivesse mesmo sido colhido com aquele grau de surpresa perante a subversão e que o dispositivo militar português na província agrícola mais rica do território ultramarino mais rico fosse…praticamente nulo. Mesmo à distância de 46 anos ainda é possível identificar uma asneira política colossal...
Mas não. Passado um mês, é com este discurso escorreito e muito bem redigido (como era seu timbre) que reaparece Salazar, fresquinho, aparentemente impoluto e desresponsabilizado, como se a responsabilidade pelos acontecimentos terem corrido daquela forma desastrada não lhe pertencesse: poucos planos de contingência havia e quase tudo teve que ser improvisado. É, de facto, mais fácil fugir-se às responsabilidades em ditadura e, valha o desabafo, que contraste o deste programa de Joaquim Furtado com os relatos hagiográficos (e outros) de Salazar de programas anteriores da mesma RTP.
Parece-me que este discurso é um exemplo flagrante da senilidade do velho ditador.
ResponderEliminarA realidade é completamente ignorada e o "Para Angola, em força e já" não passa do início de uma longa agonia.
Foi aqui que Salazar revelou ser o ídolo com pés de barro...
Houve uns maduros que, há pouco tempo, se fartaram de telefonar para a televisão para lhe reconstruir os pés...
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