19 de Setembro de 1962. De Munique transcreve-se uma estranha notícia do desaparecimento de dois cientistas alemães (Heinz Krug e Wolfgang Pilz) que estariam associados a projectos para a construção de foguetões de grande porte - derivados da V-2 - para o Egipto. A notícia é dominada pelo que não se sabe - nomeadamente o paradeiro dos desaparecidos e de quem os teria raptado - mas também pela economia na especulação sobre a identidade de quem seriam os principais suspeitos. Afinal, «qualquer país adversário da República Árabe Unida» (como então o Egipto era conhecido), a fórmula encontrada pelo Diário de Lisboa para indiciar os suspeitos, era uma maneira rebuscada e perifrástica de nomear Israel. De facto, este episódio de há sessenta anos, seria apenas um, talvez o primeiro, de tantos outros desencadeados pela Mossad (serviços secretos israelitas), envolvendo raptos e assassinatos (como o de Krug), o envio de encomendas armadilhadas (como acontecerá com Pilz) ou então a intimidação de familiares próximos (como acontecerá com uma filha de um especialista em electrónica chamado Paul-Jens Goercke. Não se sabia então, mas o conjunto de acções foi baptizado em Telavive por Operação Dâmocles, do nome do cortesão grego que experimentou os perigos do exercício do poder com uma espada pendurada por uma crina de cavalo sobre a sua cabeça. Assim era a ameaça que pendia sobre os antigos cientistas do III Reich que estavam a ajudar o Egipto. Contudo, não só certas acções correram mal como, sobretudo, irritaram a Alemanha Ocidental com quem Israel não estava nada interessado naquela altura em dar-se mal: acabara de ser assinado um tratado sobre indemnizações da Alemanha a Israel por causa do Holocausto. Assim, depois de serem incensados pelo rapto e posterior julgamento de Adolf Eichmann, os responsáveis da Mossad vieram a ser demitidos em Março de 1963 pela deficiência de análise e pela inoportunidade da Operação Dâmocles. Coincidência ou não, o pagamento das indemnizações alemãs a Israel só começou a partir daí.
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