15 setembro 2022

A «SINTONIA» ENTRE GOVERNO E OPOSIÇÃO JÁ NÃO É OBRIGATORIAMENTE O FIM DA HISTÓRIA

Antigamente, uma situação de sintonia de opinião entre o governo e a oposição correspondia ao fim da discussão do problema. Neste caso da tributação suplementar das empresas de energia, se Medina e Montenegro se mostram de acordo, não se discutiria mais e quem tivesse outra opinião restar-lhe-ia o protesto de ver o assunto a desaparecer mediaticamente, como por milagre. Só que agora deixou de ser assim. A nossa autonomia política passou a ser condicionada pelo que se pensa em Bruxelas. Dessa forma o assunto incómodo já não pode ser varrido discretamente para debaixo do tapete, porque PS e PSD se vêem confrontados com uma terceira força que também sabe operar muito bem a comunicação social. E a grande ironia é que esta capacidade de interferência de Bruxelas na política portuguesa, esta perda de soberania, foi concedida precisamente por um desses consensos entre governo e oposição, sem que tivesse havido uma verdadeira discussão do problema e um processo eleitoral de legitimação - um referendo. E assim se conclui que a responsabilidade desta triangulação é das próprias direcções políticas que mais se vêem lesadas por ela. Deve ser chato concordarem em alguma coisa para vir depois alguém de Bruxelas estragar-lhes o arranjinho, sem precisar de falar-lhes directamente. Habituem-se, como recomendava o António Vitorino aos jornalistas, só que agora devolvido à precedência e aos dirigentes políticos.

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