26 de Setembro de 1972. A PIDE envia uma nota aos jornais fazendo uma avaliação das mais recentes acções terroristas que haviam ocorrido naqueles dois últimos anos de 1971 e 1972. Nessa nota, a polícia política fazia uma diferenciação entre as três principais organizações, identificando as responsabilidades de cada uma: as do PCP, as do PRP - BR e as da LUAR. Um parágrafo adicional era dedicado ao MRPP e a outros grupos de nomes revolucionariamente imaginativos, mas, no fundo, inócuos. Na nota, a PIDE não perdia a oportunidade para ironizar com o facto de que todas as organizações reclamavam agir em nome da classe operária, mas que os membros oriundos dessa classe eram uma minoria entre os quadros dessas organizações. Quanto à identificação dos seus quadros, percebia-se que a PIDE andava bastante aos papéis na identificação de quem era quem dentro das três principais organizações que constituíam o seu alvo principal. Beneficiando nós da clarividência dos acontecimentos depois do 25 de Abril, constata-se agora que a PIDE acerta em Raimundo Narciso no caso do PCP; que também acerta em Carlos Antunes no caso do PRP - BR, mas que, fruto provável do preconceito de género, a PIDE não valoriza devidamente Isabel do Carmo; e que falha rotundamente no caso da LUAR, nomeando uma figura secundaríssima, e deixando de parte figuras como Palma Inácio ou Fernando Marques. Contudo, vale a pena assinalar a publicação desta nota para que se perceba que, antes do 25 de Abril, um vulgar leitor de jornal atento tinha oportunidade de conhecer as actividades das organizações clandestinas. Podiam não querer saber, queixar-se da censura, mas muita informação, como se vê, e apesar de ser transmitida de uma forma parcial e distorcida, estava disponível. Tanto mais que, a forma como hoje é recordada aquela mesma informação, também o é de uma forma parcial e distorcida.
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