Agora que Liz Truss se tornou primeira-ministra britânica, ainda para mais quando essa posse quase coincidiu com a morte da rainha Isabel II, houve alguém que, com todo aquele sentido de humor que os britânicos dão mostras, foi recuperar este seu discurso arrebatadamente anti-monárquico que fora proferido por ela em 1994. Entretanto passaram-se 28 anos e, provavelmente, Liz já deve ter mudado de opinião. O mesmo que aconteceu a uma maioria da nossa elite política quando confrontada com o que dizia nos tempos do PREC. O que é uma pena é que não haja, nem arquivos audiovisuais, nem o mesmo espírito de humor, para recordar aquilo que diziam então figuras gradas do regime, como era o caso do anterior presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues, que militava no MES, Movimento da Esquerda Socialista, que defendia aquilo que se pode ler mais abaixo nos cabeçalhos do jornal da organização. Em defesa de Liz Truss, esclareça-se que ela tinha apenas 19 anos quando a ouvimos e vemos no vídeo acima tão empenhadamente anti-monárquica. Ferro Rodrigues já teria os seus 26 anos por ocasião das suas convicções contra as eleições e a democracia burguesa.
Cada vez que surgem as recorrentes controvérsias sobre os modos como se pode e deve celebrar a data de 25 de Novembro de 1975, convenço-me que um poderoso factor a considerar na relutância em assinalar a data, é a circunstância de que uma apreciável percentagem dos vultos da República esteve do lado errado da História naquele momento nuclear da consolidação do regime democrático português. A transumância de muitos deles para as convicções verdadeiramente democráticas só se veio a processar depois. É o caso acima de Eduardo Ferro Rodrigues. E é o caso do seu actual sucessor Augusto Santos Silva. Mas não é o caso do presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa. O que comprova que, sendo giro, não é obrigatório ter-se sido de extrema esquerda nos tempos do PREC. É apenas um embaraço quando apreciado a esta distância, para ser apreciado com fleuma... britânica.
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