01 setembro 2022

OS DO PCP NUNCA NOS SURPREENDEM, MAS VAI SENDO TEMPO DE SEREM ELES OS SURPREENDIDOS

Há que admitir que títulos como os apresentados acima não nos deviam surpreender. Não são novidade e, como tal, não os considero verdadeiras notícias, apenas artifícios para arrancar aos leitores uma mais do que previsível indignação. Mas previsível é também a reacção do PCP, organização que desde sempre nos habituou a que, nem mesmo na hora da morte dos protagonistas, esquece e/ou perdoa o que fizeram. Seja a outros, como Jaime Neves ou Belmiro de Azevedo, seja, por maioria de razão, àqueles que considera seus e que o colectivo do partido considera traidores, como parece ser o caso comprovado de Mikhail Gorbachev. Apesar de começar por aqueles títulos, a minha questão é completamente diferente da que acima assinala tanto o Observador como o Diário de Notícias. É que, praticando o PCP esta frontalidade tão pouco cuidada e generosa, tanto a organização como os seus militantes se mostram francamente incomodados quando são tratados dessa mesma maneira brutal e sem eufemismos. Recorde-se abaixo um episódio televisivo bem recente em que o convidado socialista Sérgio Sousa Pinto acusava o PCP de um enfeudamento completo aos objectivos estratégicos da Rússia, antes e depois do colapso soviético. O convidado comunista António Filipe pura e simplesmente não o deixava falar e, quando o visado subiu a parada, despindo a sua linguagem de quaisquer cuidados semânticos, a única reacção a que assistimos ao ex-deputado comunista foi ameaçar sair do programa. Como sempre se suspeitou, os comunistas também têm alguns princípios de etiqueta e boas maneiras. O que acontece é que só se lembram delas quando lhe convêm. E, sinceramente, o sucesso que o episódio mediático parece ter tido, mostra que há quem defenda que eles, comunistas, devem ser tratados como Sérgio Sousa Pinto o fez na ocasião, retribuindo-lhes a falta de cortesia de que dão mostras para com os outros. Crueza que aquele mesmo António Filipe justificava, por ocasião da morte de Jaime Neves, classificando-a (dialecticamente) de «honestidade e coerência». A mesma honestidade e coerência que deve ser mostrada por norma nas notícias a propósito do falecimento dos gerontes que constituíram a liderança comunista nos tempos de Cunhal. Lembrando, ainda com essa mesma honestidade e coerência que o PCP daqueles tempos terá sido um dos maiores obstáculos, senão mesmo o maior obstáculo, à edificação de um Regime Democrático em Portugal depois do 25 de Abril de 1974. É importante frisá-lo, quando nos preparamos para celebrar os 50 anos da efeméride. Por muito que António Filipe e os seus camaradas se sintam incomodados pela evidência e se queiram ir embora. Os seus Abril de boca cheia não fazem falta às evocações. Como não fizeram a 25 de Novembro de 1975.

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