03 setembro 2022

OS TOLOS E OS TOLOS QUE CHAMAM TOLOS AOS TOLOS

Há dois anos, Olavo Bilac foi cantar a um comício do Chega e Daniel Oliveira fustigou-o por tolo: «se» (...) julgava «que aquilo não era política» era «tolo». Tinha razão. Em contraste, há dois dias o mesmo Daniel Oliveira argumentou num sentido de defender que «os artistas que actuam na festa do Avante!», porque essas actuações não serão políticas, não devem ser «tolos», numa espectacular reviravolta lógica de Daniel Oliveira. Daniel Oliveira é daqueles que já não se lembrará do que argumentava no mês passado, quanto mais do que escreveu há dois anos. Agora, explica-nos que a  actuação dos artistas na quinta da Atalaia é cultural, contra «a cultura do cancelamento». E que eles são vítimas de ataques soezes, já que anteriormente «o PCP era tratado com bonomia». A culpa, como em tudo o que Daniel Oliveira escreve, é da «direita», essa fonte de todos os males do Mundo, um mundo que, quando descrito por ele, é sempre de uma simplicidade infantil.

Porém, descartada essa simplicidade previsível e infantil, eu dei-me a pensar que, o que constitui novidade nesta hostilidade generalizada para com as opiniões do PCP, é o facto de, desta vez, ela está a ser subscrita, para além dos da direita que sempre o fizeram, por aqueles que costumam votar na esquerda democrática, os tais que - queixa-se Daniel Oliveira - tratavam o PCP com «bonomia». Aliás, simbólico disso, a grande pega televisiva que provocou a ameaça de abandono do estúdio da CNN pelo comunista António Filipe foi entre ele e o socialista Sérgio Sousa Pinto. O PCP estará a ser proscrito por quem se considera eleitor da esquerda Democrática, chocados com a desculpabilização que os comunistas têm feito das responsabilidades e da conduta dos russos na invasão da Ucrânia e será isso que se estará a tornar muito desconfortável para eles, como também para um antigo comunista (reciclado) como Daniel Oliveira.

2 comentários:

  1. Pois, talvez a Festa do Avante não seja apenas um anódino festival de música. Não obstante, essa contextualização é muito incompleta e especiosa, pois omite que a Festa do Avante é um "festival" com um longo historial, que tem (ou tinha) manifestações artísticas muito variadas e com muitíssima gente que lá ia apenas pelos concertos, teatro e outros convívios, sem ser do PC, sendo inclusivé crítico das posições do PC nomeadamente com respeito ao Afeganistão, e voltando as costas aos comícios do camarada Cunhal. Ora, isto tem alguma coisa a ver com um comício do Chega?

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  2. Pois, pode iludir-se e tentar iludir os outros como quiser, mas a festa do Avante! é uma manifestação política, vocacionada para fins tão políticos quanto um comício do Chega. As interpretações dos estados de alma de quem lá vai é sua, trata-se de um lugar comum muito repetido a esse respeito, mas só por isso, pela repetição, não o faz verdadeiro. No PCP contam-se as visitas ao certame de igual forma: sejam os visitantes ortodoxos ou dissidentes ou ingénuos.

    Uma manifestação politicamente neutra serão os festivais do Sudoeste ou de Paredes de Coura. A quem vai a esses nem se põe a questão de querermos saber o que pensarão do Zelensky - não sei se está a perceber a diferença...

    Quanto à matéria de facto, o Daniel Oliveira ou adopta um critério a respeito destas coisas da presença dos artistas em manifestações políticas ou então adopta outro. Eu prefiro um, mas posso compreender qualquer dos dois. O que ele não pode é mudar de critério a gosto das suas inclinações políticas e chamar tolo ao Olavo Bilac por «pôr comida na mesa» (como ontem o descrevia o Agir no Expresso - recorde-se que em Agosto de 2020 se estava no auge da pandemia e não havia contratos) e agora defender os artistas que participam na festa do Avante! como uma manifestação «contra a cultura do cancelamento» em vigor por causa desses mesmos tempos difíceis.

    É completamente incoerente, mas não me surpreende da parte de quem suspeito, como disse originalmente, que já nem se lembrará de muito do que argumentou há um mês.

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