15 dezembro 2020

AS VÁRIAS FACES DO COLABORACIONISMO DE VICHY

Domingo, 15 de Dezembro de 1940. A capa do jornal do dia mostrava que algo se passara em França, entre os membros do governo de Vichy. Numa demonstração de opacidade, as notícias chegavam via Suíça, oriundas de Zurique, e davam conta que Pierre Laval, que fora considerado desde o princípio daquele regime, há cinco meses, o delfim do Marechal Pétain e o segundo na hierarquia, havia sido demitido do governo e preso! Dissipando-se o nevoeiro noticioso, «a notícia confirma(va)-se»: em Vichy, na Sexta-Feira 13, à noite, o Marechal demitira o seu delfim de todos os seus cargos e o conselho de ministros que se seguida, já sem a presença de Laval, «ocupara-se» da sua prisão. Parecia que Pétain e o regime de Vichy se queriam distanciar dos protagonistas mais entusiastas do colaboracionismo arreigado com a Alemanha. Mas os acontecimentos que então se revelavam, dissipada a bruma, vão ser sol de pouca duração. Uma coluna militar alemã, encabeçada pelo embaixador alemão em França, Otto Abetz, libertará Pierre Laval e faz-lhe o gosto de o levar à presença do Marechal, onde o cobrirá de insultos: «Não passa de um fantoche, de um cata-vento,...» Depois da descompostura ao velho, Laval partiu com Abetz para se instalar em Paris, onde estava fora do alcance de Vichy e sob protecção alemã. Os alemães retaliarão: é suspensa a libertação de algumas categorias de prisioneiros de guerra franceses que se viera a realizar até então; a linha de demarcação que separava a França ocupada da directamente governada por Vichy torna-se muito mais difícil de franquear; e o acesso a Paris torna-se proibido a qualquer ministro do governo de Vichy. Mas, se o episódio serve para nos fazer compreender que houve várias faces e graus de adesão distintos do colaboracionismo com a Alemanha, também dá para perceber que do lado do Marechal e dos que o rodeavam nunca houve veemência para estabelecer um limite de tolerância quanto aos aspectos de que esse colaboracionismo se revestiria: dali por pouco mais de um mês (abaixo - 20 de Janeiro de 1941) já Pétain e Laval haviam esquecido os insultos recíprocos e pareciam dar-se muito bem...

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