A edição de 24 de Dezembro de O Diabo contém este perfeito milagre: um artigo assinado por um comunista - Eugénio Rosa - que é publicado num jornal de há muito conotado com a extrema direita, senão mesmo fascista. São os primeiros os responsáveis por popularizarem a expressão «convergência de... (normalmente de esquerda)» quando se referem a alianças pontuais e circunstanciais. Mas esta, não sendo de esquerda nem de direita, é uma convergência de extremos. Em que o inimigo é o centro com responsabilidades de governação. Repare-se que Rosa nada esclarece quanto ao que se pode fazer para que a «dívida pública não suba em flecha» quando estamos mergulhados em plena recessão económica, e n'O Diabo também não se parece estar interessado em descobrir soluções para o equilíbrio das finanças públicas, coisa que, para eles, só mesmo o doutor Salazar é que alguma vez soube em Portugal... Nesses outros tempos (1940) e numa outra encarnação deste mesmo jornal O Diabo, havia alguém que escrevia esclarecedoramente a propósito destas alianças de conjuntura, quase milagrosas, caso ribombante o da aliança que tivera lugar em 1939 entre comunistas e nazis: «Aqueles que viram em dada união uma fusão de definitiva de finalidades, não compreenderam as causas que determinaram essa união, não se aperceberam de que ela correspondia a um conjunto de condições objectivas que, uma vez modificadas, determinariam um rompimento e uma nova arrumação e forças. Não atenderam a que cada uma das forças unidas mantinha – para além dos propósitos comuns – os seus propósitos próprios, umas vezes apregoados, outras vezes implícitos.» O autor destas palavras era, como Eugénio Rosa, também assumidamente comunista: chamava-se Álvaro Cunhal (abaixo). E como de costume, ontem e hoje, quem se lixa no meio destas convergências de extremos, são as democracias burguesas...
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