22 dezembro 2020

ASSALTANTES DE BANCOS ERAM DO PRP E ARMADOS PELO COPCON

20 de Dezembro de 1980. O jornal Expresso publica uma extensa entrevista a um antigo operacional do Partido Revolucionário do Proletariado - Brigadas Revolucionárias (PRP-BR), uma conhecida organização terrorista armada que operara tanto antes quanto depois de 25 de Abril de 1974. O depoimento era o «de um homem que retrata(va) a estrutura do PRP e do seu "braço armado" a par da concertação, que sempre existiu, entre o partido e sectores diversos das instituições militares.» (O COPCON a que abaixo se faz referência, comandado por Otelo Saraiva de Carvalho) A intenção confessa da confissão (passe a cacofonia..) era a desforra pela "arraia miúda" dos operacionais terroristas quanto à redacção que fora dada a uma Lei da Amnistia recentemente aprovada. Lei essa que teria absolvido «políticos e militares que patrocinaram e dirigiram acções de delito comum, colocando mentores de um lado (os amnistiados) e os autores materiais de outro (os condenados).» Donde de concluía, para aqueles que tinham uma mais sólida formação teórica marxista-leninista, que até nas lutas revolucionárias clandestinas pode existir um intrínseco conflito de classes entre dirigentes e operacionais no caso das coisas "darem para o torto": os primeiros são amnistiados e os segundos ficam com as responsabilidades do que fizeram. Ora, nada disto constava nos mais avançados e recentes livros teóricos escritos sobre o assunto, caso, por exemplo, de Manual do Guerrilheiro Urbano do brasileiro Carlos Marighella (1969), onde em nenhum capítulo se postulava que, "quando o mar do contra-terrorismo bate na rocha guerrilheira, quem se lixa é o... operacional".
Entrevistas e denúncias como estas, mostrando que, por muito anárquicas que parecessem, as estruturas das organizações terroristas ainda possuíam uma estrutura hierárquica e, por isso, responsável, tiveram a virtude de dificultar muito mais o processo revolucionário mediático-político através do qual os antigos dirigentes do PRP (casos notáveis de Isabel do Carmo e de Carlos Antunes) se queriam escapulir às penas a que haviam sido condenados, fazendo greves da fome e outros incidentes avulsos que chamassem a atenção para as suas pessoas (e só para as suas pessoas...). No caso específico do COPCON e talvez porque, à data, estivesse cá fora e não tivesse aprendido tudo o que precisava sobre insurreições armadas, Otelo Saraiva de Carvalho, acabado de receber 86.000 votos nas eleições presidenciais do princípio daquele mês (uma hecatombe: 10% dos votos que recebera em 1976!), ainda vai experimentar um novo ciclo de actividades terroristas por intermédio da sua participação nas FP-25. Depois, também acabou por ir dentro, complicando ainda mais a estrutura legal das Leis de Amnistia que se procuraram produzir ao longo da década de 1980, contentando todas as classes de terroristas: os mentores e os operacionais. 40 anos depois, nem parece ter acontecido. Os revolucionários estão tão arrependidos que Carlos Antunes confessa ao mesmo Expresso que «As bombas não fazem milagres» e Isabel do Carmo reconhece no Jornal Económico que «A luta armada já não faz sentido». O que me apeteceria perguntar-lhes (sem saber se eles se disporiam a responder) era: Alguma vez a luta armada fez sentido, depois do 25 de Abril?...

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