2 de Dezembro de 1980. Em El Salvador, onde então grassava uma guerra civil, três freiras católicas e uma assistente laica, todas de nacionalidade norte-americana, são sequestradas, violadas e assassinadas quando regressavam do aeroporto. Os corpos só vieram a ser descobertos dois dias depois, mas o modus operandi apontava, desde o início, para um esquadrão da morte, que as investigações subsequentes, levadas a cabo por pressão americana, rapidamente associaram a membros das próprias forças armadas governamentais salvadorenhas. Em Washington, a administração Carter (de saída, depois da vitória de Ronald Reagan) viu-se dividida entre o apoio tradicional às ditaduras latino-americanas e o ultraje que o episódio provocara na sua opinião pública. De acordo com o discurso tradicional, os comunistas é que eram contra a religião; no caso, os presumíveis culpados estavam do lado apoiado pelos americanos. O dilema veio a ser rapidamente ultrapassado pela equipa da administração Reagan: Jeane Kirkpatrick, a futura embaixadora dos Estados Unidos na ONU, foi citada, considerando que «as freiras não eram apenas freiras. As freiras eram também activistas políticas (...) em prol da Frente (FMLN). (...) Não, não penso que o governo tenha sido responsável» (pelas suas mortes). Cá em Portugal sabia-se bastante bem que a actividade missionária nem sempre se comporta de forma neutral em zonas de conflito, valia o exemplo do que acontecera meia dúzia de anos antes em Moçambique, quando várias organizações missionárias a operar ali haviam sido acusadas de parcialidade pró-Frelimo pelas autoridades coloniais portuguesas. Mas a analogia termina aí: os portugueses expulsaram-nos, não os mataram como os salvadorenhos fizeram às freiras... descontando o resto das sevícias. E a tolerância oficial americana para com os responsáveis pela execução destas suas quatro compatriotas ainda hoje é uma daquelas manchas indeléveis da política externa norte-americana. O filme abaixo é uma reconstrução dos acontecimentos feita no filme Salvador (1986).
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