Sobre o que de importante há a dizer sobre as eleições presidenciais que se avizinham, aquilo que me ocorre é destacar a impertinência da realização de eleições presidenciais para reeleger quem lá está. De facto, se continuam a subsistir opiniões muito diversificadas (e muitas de mérito) sobre o âmbito do que deverão ser as competências presidenciais e a possível alteração da situação existente, quando se chega à configuração dos mandatos presidenciais e ao seu limite, são esmagadoras as vozes de quem argumenta pela modificação do «status quo», em contraste com o silêncio de quem se apresente a defender aquilo que está. O argumento mais impositivo a respeito desse assunto é o do percurso histórico das eleições em que um presidente em exercício se apresenta à reeleição: das quatro vezes em que isso aconteceu, nenhum presidente em exercício perdeu a reeleição. E, à quinta vez, também me parece assegurado que Marcelo não vai perder esta próxima. Temos assim estabelecido um ciclo eleitoral consuetudinário para as eleições presidenciais: de dez em dez anos, há eleições a sério; nas eleições intermédias dos cinco anos de mandato, há uma coisa. Portanto, em Janeiro próximo vai haver mais uma coisa. Já se constatou a coisa em 1991 com Soares, em 2001 com Sampaio, em 2011 com Cavaco, mas a disposição dos principais partidos para alterar as regras constitucionais e descartar estes actos eleitorais gratuitos continua a ser nula. Obviamente, em 2021, Marcelo vai ganhar. Se precisar de duas voltas para o conseguir será um escândalo. Sobre eleições presidenciais isto é o principal que se me oferece dizer. Mas, porque a disposição dos principais agentes e actores políticos é a de deixar estar tudo como está, que estará muito bem, é que me sinto com liberdade para aproveitar o próximo acto (supérfluo), a tal coisa, para eu votar noutras coisas. No caso desta próxima eleição presidencial, assumo que não pretendo votar em nenhum candidato presidencial, mas vou votar num dos candidatos presidenciais - com o objectivo de derrotar os maiorais do jornalismo televisivo. Que ganharam mais uma vez a inimizade generalizada, com as entrevistas televisivas protagonizadas por Miguel Sousa Tavares ou João Adelino Faria, entrevistas que se tornaram numa cacofonia, em que não deixaram falar os entrevistados. Mas a prática da sobranceria e do vedetismo das estrelas da televisão para com os candidatos presidenciais é já antiga, especialmente quando esses candidatos são oriundos das franjas político-sociais, deixem-me recuperar dois exemplos publicados aqui no Herdeiro de Aécio, um de Judite Sousa para com José Manuel Coelho em 2011 ou então outro de Ricardo Costa para com Tino de Rans em 2016. Em todos os casos citados (e os casos não são todos, que muitos há mais...), Sousa Tavares, Adelino Faria, Judite Sousa, Ricardo Costa, podem estar em canais diferentes e as circunstâncias serem diferentes, mas une-os a mesma prosápia desdenhosa de quem se acha imensamente... quando são uns merdas. Ora quando os vejo (a eles e às televisões que os apadrinham) na notícia acima a ostracizar esse mesmo Tino de Rans e a sua candidatura, pergunto-me por quem se tomam eles... porque por quem me tomam eles sei eu muito bem: por parvo, a atender à estupidez da explicação que desencantaram para justificar a exclusão do candidato Tino dos debates, a historieta de o excluir por não ser um candidato que disponha de apoios parlamentares. (Vitorino Silva recebeu 152.000 votos nas últimas eleições presidenciais de 2016, o que representa mais do dobro dos 67.0000 votos recolhidos tanto pelo Chega como pela Iniciativa Liberal quando das eleições legislativas que lhes deram a tal de «representação parlamentar»). Com tanta arrogância a combinar-se com tanta aldrabice, estas eleições que nem causa tinham, para mim adquiriram-na: vai ser preciso votar no Tino! Não para que ele seja presidente (nunca o será), mas porque, agora em registo acessório, uma votação robusta num candidato a que não foi concedido sequer o privilégio de debater com os outros na televisão será uma trancada muito bem aplicada na arrogância dos maiorais da informação e da política dos meios audiovisuais, que andam para aí convencidos, e nos tentam fazer crer, que só através deles é que flui a informação política e a formação das opiniões. Olhem que não, como diria o velho doutor Cunhal, olhem que isso é cada vez menos assim. E, se não aprendem de outra maneira, que o eleitorado lhes esfregue umas poucas centenas de milhar de votos nas trombas...
Tens toda a razão. A ausência de Tino de Rans deveria ser um escândalo, tal como a postura dos entrevistadores, que se acham muito mais importantes que os entrevistados.
ResponderEliminarGostava de saber o que diz a isto o selfie man,e,tendo tomates,diria..."só vou a debates se o Tino for"
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