Este senhor da fotografia acima chama-se Joseph Rainey (1832-1887) e foi o primeiro Representante de ascendência africana a ser eleito para a respectiva Câmara no Congresso dos Estados Unidos em Washington DC. O episódio, simbólico, aconteceu no estado da Carolina do Sul numas eleições que ocorreram há precisamente 150 anos. Portanto em 1870, ou seja cinco anos depois do fim da Guerra Civil, que acabara com a escravatura nos Estados Unidos (e Rainey até nascera escravo, fora o seu pai que comprara a liberdade da família quando ele era adolescente), os descendentes de africanos pareciam a caminho de lhes ser reconhecido direitos políticos iguais aos dos restantes grupos. Rainey afigurava-se o símbolo do primeiro de uma série de Congressistas negros, tomando em consideração que eles representavam cerca de ⅛ da população americana e se concentravam (90%) nos estados do Sul. Nos 27 anos que se seguirão, até ao fim do século XIX (1870-1897), houve 20 negros que foram eleitos para a Câmara de Representantes dos Estados Unidos, todos eleitos em estados do Sul. Mas atenção: quando se pensaria que isso aconteceria de uma forma progressivamente crescente, aconteceu precisamente o contrário: houve 14 eleitos nos doze anos que se estendem de 1870 a 1882, e apenas 6 nos 15 anos que se lhe seguem, de 1883 a 1897. Em 1901, com a saída de George White (1852-1918) da Carolina do Norte deixou de haver qualquer Representante negro entre os 435 representantes que compõem a Câmara (quando proporcionalmente seria de esperar que houvesse até cerca de 50). Nos 28 anos que se seguirão (1901-1929) não houve nenhum Representante de ascendência africana: zero. Este primeiro quartel do século XX é considerado o apogeu da Era Jim Crow, sinónimo da mais activa descriminação racial dos Estados Unidos. A constatação é que História não flui sempre no sentido que achamos mais correcto, e o percurso para a igualdade racial nos Estados Unidos teve fluxos e refluxos. O que o título desta evocação pretende realçar é que, ao contrário do que se costuma enfatizar nestas ocasiões, neste caso não tem grande significado o 150º aniversário do primeiro Representante negro no Congresso dos Estados Unidos. Para recuperar um ditado português, foi uma andorinha que não anunciou a Primavera. É que o vigésimo quinto da lista dos eleitos negros só foi eleito oitenta e cinco anos depois, em 1955, pelo estado do Michigan. E houve que esperar mais 18 anos pelo trigésimo nono, para que Andrew Young fosse eleito pelo estado da Geórgia, terminando um hiato de 73 anos em que nenhum Representante negro fora eleito por um estado do Sul. Actualmente (2020), a Câmara de Representantes dos Estados Unidos contém 51 membros de ascendência africana, um número aproximado da sua proporção na composição da sociedade americana. Um último quadro, produzido pela AFP a partir dos dados compilados pela SPLC, mostra-nos o ritmo a que vieram a ser edificados, baptizados e dedicados monumentos, estátuas e estabelecimentos de ensino associados aos símbolos da confederação que defendera a causa da escravatura durante a guerra civil de 1861 a 1865; não por coincidência, o período de maior apogeu coincide com essa mesma Era Jim Crow (1901-29) em que não havia um representante de ascendência africana sequer entre os 435 da Câmara.
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