29 dezembro 2020

AINDA SOBRE PRESIDENCIAIS, MAS DESTA VEZ APENAS SOBRE O ACESSÓRIO

Conclusivamente, tanta foi a celeuma provocada pelo ostracismo votado pelas televisões ao Tino de Rans, e tão temíveis poderiam ser as consequências eleitorais da atitude de o excluir, que os outros candidatos foram todos abraçar solidariamente o Tino e na RTP se achou por bem inclui-lo na grelha de debates com os restantes candidatos. Quem tiver memória recordar-se-á que isto é apenas uma repetição daquilo que acontecera há dez anos com José Manuel Coelho (outro candidato proscrito), que também ficara esquecido até a RTP ter arranjado uma entrevista feita à última da hora por uma muito contrariada Judite Sousa. Veja-se abaixo a forma como Judite cumprimentou o candidato depois da entrevista: aquilo é que era distanciamento social e isso nove anos antes da covid-19!
E como também acontecera das outras vezes, as duas televisões comerciais (SIC e TVI) escusaram-se a alterar os seus debates. Há nos responsáveis das duas estações uma selectividade antipática, selectividade essa que se torna evidente em ocasiões como aquela das eleições de 2016 em que Ricardo Costa manifestou frontalmente a sua «dificuldade de (sic) perceber o que é que o Tino de Rans estava ali a fazer...». Frontalidade por frontalidade e invocando-se, quando conveniente, os imperativos da televisão comercial, confesso-vos a minha gana por não ter uma ocasião para perguntar a Ricardo Costa porque é que ele não vai entrevistar também a Popota dos brinquedos do Continente? Estou convencido que a Sonae ia adorar... Mas acabemos com as divagações dos disparates do passado e concentremo-nos nos do presente.
E um dos que encontrei, espoletado por este episódio do ostracismo ao Tino, li-o num editorial do Público onde Manuel Carvalho, por debaixo de um título-apelo para que Deixem Vitorino Silva debater, tem esta passagem antológica: «Reconheça-se que na decisão há uma ideia subliminar que, em tese, merece condescendência. A de que não se pode tratar de forma igual o que é diferente. Tino de Rans é claramente um candidato oportunista, que aproveita as prerrogativas da democracia para se promover.» De seguida, Carvalho tenta amenizar a bojarda, mas já não consegue, que o que ele escreveu é de uma parcialidade inqualificável. É que o único candidato que concorre para presidente nestas eleições é mesmo Marcelo. Os outros andam lá todos a fazer figura, por razões díspares. E, apesar disso, o único que ele qualifica de oportunista é o Tino?!
Pior do que a incongruência, Manuel Carvalho confunde o fundo e a forma. Na forma, e embora Carvalho empregue o eufemismo «diferente», o Tino está a ser considerado um rústico e será isso que o distingue de todos os outros. Distinto de todos os urbanos, entenda-se. Mas quanto ao fundo, e se Tino não tem nada dentro da cabeça, ele não se distingue de tantos outros oportunistas urbanos, evoquemos, por exemplo, o caso de Pedro Santana Lopes, que não concorre a estas eleições presidenciais (mas que está sempre em campo e para 2026!), e que, sendo tão vazio quanto o Tino, merecia, ainda não há dois anos, as atenções de um editorial do mesmo Manuel Carvalho. Ora Pedro Santana Lopes é um outro candidato oportunista que aproveita, mais do que as prerrogativas da democracia, a indulgência de pessoas como o próprio Manuel Carvalho. E só apontam o Tino?!...

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