23 de Dezembro de 1970. O interesse da notícia sublinhada não é o que ela contém. Se Debray havia sido libertado, ainda bem para ele. O interesse, cinquenta anos transcorridos, é considerar o destaque de primeira página que a notícia da sua libertação mereceu. Porque, só aqui entre nós, não é só você que não faz a mínima ideia de quem é - ainda está vivo - Régis Debray. Debray é um intelectual francês que resolveu passar das teorias à prática quando se dispôs a acompanhar «Che» Guevara quando este último foi fazer a revolução na Bolívia em 1967. Sabe-se quanto a guerrilha de Guevara foi um fiasco: Debray foi capturado ainda antes de Guevara, as autoridades bolivianas condenaram-no a trinta anos de prisão, mas teve um enorme e poderoso lóbi a protegê-lo e a pedir a sua libertação, incluindo o escritor e antigo ministro gaulista André Malraux, o próprio Charles de Gaulle e ainda o papa Paulo VI. Depois de uns decorosos três anos de cárcere, os bolivianos, chamuscados pelo assassinato e martirização de Guevara, libertaram Debray. Esta parece ter aprendido a lição: regressou ao pensamento e à escrita mas não mais voltou às experiências concretas sobre revoluções. Régis Debray tem hoje oitenta anos, mas os últimos cinquenta foram desprovidos do charme que o projectava para uma primeira página de jornal noutras paragens do mundo que não a Bolívia ou a França.
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