26 dezembro 2020

A ANTECIPAÇÃO DO OCASO POLÍTICO DE HUA GUOFENG

26 de Dezembro de 1980. É sabido o quanto a quadra natalícia, por causa do "recolhimento", costuma "esvaziar" o noticiário internacional, nomeadamente aquele que é predominantemente oriundo do mundo ocidental (cristão). O que costuma existir, veja-se acima à direita, são as enfadonhas narrativas de Roma, com o Papa, a Terra Santa, etc. Esse vazio precisa ser preenchido com o que acontece no resto do Mundo, e há 40 anos, a visita de um ministro dos Negócios Estrangeiros paquistanês (que, como muçulmano, não celebrara o Natal) a Pequim (onde também não se celebrara o Natal) era pretexto para "esticar" um bocado o assunto com a questão do "desaparecimento" mediático e institucional de Hua Guofeng, o presidente do partido comunista chinês (PCC), precisamente aquele que sucedera ao incontornável Mao em 1976 (e figura em destaque no cartaz acima). Naquela lógica muito dialéctica do marxismo-leninismo, se o presidente se tivesse encontrado com o ministro nada de importante teria saído dali, porque as relações (próximas) entre a China e o Paquistão se tratavam a outro nível; mas, como não se encontrara com o ministro, essa ausência de encontro assumia uma importância que o encontro nunca poderia ter tido. O (não) evento era para ser interpretado como uma despromoção do visado na hierarquia doméstica e a notícia dava conta das especulações que Hua Guofeng se prepararia para ceder o lugar ao verdadeiro homem forte da China, Deng Xiaoping, de quem Hua fora aliado em 1976 quando da manobra que derrubara o Bando dos Quatro. Os factos virão a substanciar a especulação do jornal, embora isso venha a acontecer a um ritmo chinês: dali por seis meses. Em 28 de Junho de 1981 Hua Guofeng vai ser substituído por Hu Yaobang à frente do PCC. Mantendo um padrão que fora o da China de Mao, nas altas esferas da política chinesa, a titularidade dos cargos podia não ser sinónimo de robustez do poder detido; Hua Guofeng encabeçava o partido, o exército e o Estado mas Deng Xiaoping despojara-o e derrubara-o nos bastidores do partido; mas, em contraste com os anos do maoismo e com as práticas do Bando dos Quatro e para com o Bando dos Quatro, com Deng os membros do partido caídos em desgraça seriam, a partir daí, apenas destituídos, sem prisões ou quaisquer coacções de outra forma.

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