23 outubro 2017

AS BRIGADAS REVOLUCIONÁRIAS PASSAM À CLANDESTINIDADE

23 de Outubro de 1975. Em toda a comunicação social (estatizada) que permanecia empenhada no Processo Revolucionário em Curso a notícia mais em destaque naquele dia era o anúncio que as Brigadas Revolucionárias passariam à clandestinidade. Como uma das notícias abaixo explica, ainda que sumariamente, a culpa fora da lei do desarmamento que interditaria a existência de organizações civis armadas... Ora isso não, isso era acabar com o ganha pão de várias organizações revolucionárias respeitáveis para além do próprio PRP-BR, caso da LUAR de Palma Inácio e Camilo Mortágua que tanto gostava de captar fundos assaltando bancos. E para acrescentar exotismo à conferência de imprensa de tal anúncio, quatro dos seis membros da mesa apareciam mascarados. Mas, à distância de quarenta e dois anos, é sempre preferível recorrer à citação de uma das notícias da época (Diário de Lisboa), porque ao observador moderno confesso faltar o compungimento para levar o delirante episódio com a seriedade que os protagonistas manifestavam.
As Brigadas Revolucionárias separam-se «organicamente» do PRP. A partir deste momento aquela estrutura revolucionária que travou uma dura batalha contra o fascismo através de meios de acção directos e armados mergulhará de nova na clandestinidade. «A Situação política, marcada por uma nítida viragem à direita, assim o obriga».
Esta decisão foi divulgada hoje numa conferência de imprensa em que estavam presentes alguns elementos das brigadas que, tomando as devidas precauções, apareceram de rosto tapado com lenços vermelhos. Participaram também no encontro com os órgãos de informação Carlos Antunes e Isabel do Carmo, dirigentes do Partido Revolucionário do Proletariado. A atitude das Brigadas surgiu na sequência da lei que diz não poder consentir na existência de grupos civis armados.
«A primeira vez que se falou da lei foi no PAP (Plano de Acção Política), um documento de características reformistas e nessa altura já o PRP pensou numa estratégia a seguir que seria posta em prática logo que a lei saísse. Em 11 de Maio de 1974 ficou decidido que não havia razão para as brigadas continuarem separadas do partido. No entanto não se dissolveram no seu interior. Consideramos que hoje é o dia de as Brigadas passarem outra vez à clandestinidade. Esperamos que seja por pouco tempo.»
Estas palavras são de Carlos Antunes que acrescentou: «Não há qualquer divergência ideológica, nem política, nem de programa.»
Em seguida, um dos embuçados focou alguns aspectos significativos da acção das brigadas após o 25 de Abril «pois a sua anterior actuação já é sobejamente conhecida». Salientou a actividade concreta das brigadas quer no treino de armamento de trabalhadores quer na luta contra a reacção. Aqui desenvolveu um papel fundamental, sobretudo na desarticulação de uma parte do ELP e outras organizações fascistas paramilitares. Como enquadramento nesta acção o elemento das brigadas salientou o caso de Colares.
Os outros revolucionários de rosto coberto referiram-se ao trabalho das Brigadas nos quartéis com vista à formação de um Exército revolucionário «tentando detectar os comandos reaccionários nas diversas unidades com o fim de os neutralizar». E ainda a actividade de vigilância desenvolvida junto da fronteira onde os reaccionários espreitam.
No decorrer do encontro Isabel do Carmo informou que tinha sido colocado junto à sede do PRP, precisamente na porta da garagem um engenho explosivo com 5 quilos de plástico. A bomba era de fabrico caseiro.
Nem de propósito, e talvez nem seja coincidência, ainda ontem me deparei numa livraria com o livro acima, acabado de ser editado, da autoria de uma das caras descobertas da conferência de imprensa de há quarenta e dois anos, Isabel do Carmo. Reconheço o esforço continuado dela e de vários outros que seguiram o mesmo percurso, em tentar pasteurizar, à posteriori, as suas opções pela violência política (abaixo). Têm-lhes sido concedidas tantas oportunidades para essa desculpabilização que o assunto, confesso, deixou de me interessar. Mas do folhear do livro uma nota irónica recolhi: tendo sido dirigente de um partido que se reivindicava revolucionário e do proletariado, com um preço de capa de 28,90 € não serão decididamente as massas proletárias que o vão comprar... Talvez antes aquela esquerda caviar (já para lá de) grisalha, sempre ansiosa em reler revisões do passado que amenizem os seus pecadilhos de juventude, quando brincava às revoluções.

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