27 outubro 2017

O TRATADO DE FONTAINEBLEAU (1807)

Há uns dias tornou a circular pela Net, a propósito da Catalunha, um complicado mapa da Europa em que apareciam evidenciados todos os separatismos do continente. Curioso é que, se o analisássemos em detalhe, ver-se-ia que poucos países escapariam a esse desmembramento virtual provocado pelos particularismos dos povos: a Grécia, a Irlanda (que até se reuniria com o Ulster) e... Portugal. É contra esse pano de fundo que se torna irónico afixar aqui este mapa de um Portugal desmembrado para ilustrar a assinatura do Tratado de Fontainebleu que teve lugar há precisamente 210 anos: 27 de Outubro de 1807. Assinaram-no (secretamente) França e Espanha. Previa a repartição do Portugal continental em três partes: a) o Reino da Lusitânia Setentrional com 750.000 habitantes em 8.000 km² (a verde); b) o Principado dos Algarves com uns 350.000 habitantes e 35.000 km² (a rosa); c) uma terceira parcela (a maior) de 46.000 km² e 1.900.000 habitantes cujo destino era para ser decidido posteriormente. Nesses tempos não se invocava nem se praticava ainda essas modernices dos direitos de autodeterminação dos povos. Os soberanos prometidos, o rei da Lusitânia e o príncipe dos Algarves, eram obviamente espanhóis. Mas, como aconteceu com tantas outras combinações da diplomacia nesses anos frenéticos da supremacia napoleónica sobre a Europa, acabou por não ser assim. No futuro, aquilo que ficara acordado no papel nunca chegará a sair do papel, mas em termos daquilo que realmente interessaria a Napoleão, a imposição do Bloqueio Continental, a assinatura do Tratado foi apenas a percursora da que seria a primeira Invasão Francesa. Pouco mais de um mês depois, a 30 de Novembro, o general Junot entrava em Lisboa e, com a Corte fugida para o Rio de Janeiro, estabelecia a sua lei.

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