Há precisamente 75 anos e tomando como pretexto a defesa menos que encarniçada que as tropas francesas haviam oposto aos Aliados que haviam desembarcado na África do Norte 72 horas antes, Adolf Hitler deu instruções às unidades militares alemãs estacionadas em França para que ocupassem também o resto da França que ainda não ocupavam, uma área impropriamente designada por Zona "Livre". O Fall Anton, que há mais de dois anos fora concebido para a eventualidade da totalidade da França, foi impecavelmente executado. A verdade é que em Vichy, depois dos desembarques, já se estava à espera de uma reacção do género e o pequeno exército de 100.000 homens que sobrevivera às condições do armistício tomara as suas disposições para travar um último combate retardador, para que o Chefe de Estado Philippe Pétain tivesse condições para partir de avião para a Argélia onde, através da sua pessoa, a França poderia retomar com honra a sua condição de Aliada como o fora até Junho de 1940. Mas afinal nada chegou a acontecer: o exército não reagiu mas também não havia por que reagir: Pétain, apesar das insistências, preferiu ficar. O exército, tirando algumas excepções pontuais ficou nas casernas e foi posteriormente desarmado. Quanto a Pétain preferiu protestar diante do Marechal von Rundstedt, comandante das tropas invasoras e também embaixador encarregue de amenizar diplomaticamente a proeza das armas alemãs, quando o visitou em Vichy: «Recebi esta noite uma carta do Führer anunciando-me que, por causa das necessidades militares, se vira na obrigação de adoptar medidas que tiveram por consequência prática suprimir os elementos principais e fundamentais do armistício. Protesto solenemente contra essas decisões que são incompatíveis com o que ficou convencionado na assinatura do armistício». O gesto é de tal modo inócuo que Rundstedt até dá o seu acordo à sua transmissão radiofónica! Na época e para efeitos de propaganda, foi do interesse das duas partes directamente envolvidas - Alemanha e França de Vichy - minorar o impacto da invasão, como se percebe pelo vídeo de actualidades exibido abaixo. Pelo contrário, para os Aliados, o episódio foi valorizado, na demonstração de que, se Vichy e os seus protagonistas maiores continuaram na senda do colaboracionismo mais subserviente para com a Alemanha, foi por sua livre opção. Esse foi o único aspecto que será verdadeiramente livre nesta invasão da Zona "Livre".
A História inconclusiva da França na Segunda Mundial.
ResponderEliminarJoão Moutinho