30 novembro 2017

QUEM MANDOU MATAR ALFRED HERRHAUSEN?

30 de Novembro de 1989. Na Alemanha ainda se vivia sob a impressão de euforia que se sucedera à queda do Muro de Berlim (três semanas antes - 9 de Novembro) quando foi surpreendida com a notícia de um sofisticado e bem sucedido atentado cometido contra Alfred Herrhausen, o presidente do Deutsche Bank. Parecia o regresso aos princípios do Deutscher Herbst (Outono alemão) de 1977, quando a Alemanha Federal atravessara uma enorme crise de segurança por causa do rapto de um dirigente empresarial (Hanns-Martin Schleyer, posteriormente assassinado pelos raptores), encadeado depois com o desvio de um avião da companhia aérea estatal Lufthansa. A crise culminara com o suicídio suspeitamente oportuno dos dirigentes terroristas da Fracção do Exército Vermelho já julgados e condenados. Regressando a 1989, por causa do que acontecera com Schleyer, as condições de segurança que rodeavam um alvo potencial como Alfred Herrhausen eram completamente outras e é por isso que vale a pena descrever o atentado, assim como as condições especiais de que se revestiu para ter sido bem sucedido. A viatura blindada onde viajava Herrhausen seguia no meio de um comboio de três viaturas com a sua equipa de protecção. A bomba, com 7 kg de explosivos, que estava colocada na mochila de uma bicicleta esquecida ao lado da estrada, detonou com uma precisão milimétrica ao lado da porta blindada do lugar onde viajava o alvo. Para alcançar essa precisão, o explosivo foi detonado pela interrupção de um feixe de luz infravermelho (invisível) que foi causada pela deslocação do próprio Mercedes onde seguia Herrhausen. A rematar a sofisticação do atentado, e para ultrapassar a protecção fornecida pela porta blindada, aos explosivos fora acoplado um sofisticado dispositivo penetrativo (Misznay-Schardin) que é semelhante ao que é utilizado por algumas munições anti-tanque. Só assim o projéctil formado em consequência da explosão conseguiu atravessar a porta atingindo Alfred Herrhausen. Seccionou-lhe as duas pernas provocando, por causa da hemorragia, uma emergência médica incontrolável. Nos dias que correm um tal dispositivo tornou-se uma banalidade, popularizado nomeadamente no Médio Oriente (Líbano, Iraque), mas há 28 anos tratou-se de uma novidade de deixar boquiabertos os - ditos - especialistas. Impondo a pergunta: quem fornecera tal know-how aos autores do atentado? Não faltou quem apontasse o dedo para os suspeitos óbvios, para a outra Alemanha, a que acabara de colapsar. Só que, naquelas circunstâncias, a iniciativa já não fazia sentido. Seria que, até no terrorismo, se poderiam verificar os efeitos de inércia burocrática e que a preparação do atentado já estaria demasiado adiantado para que o HVA da Stasi o pudesse abortar?...
Mas, num indício de que a opacidade e a encenação a respeito do que acontecera parecia abranger tanto os autores quanto as vítimas, as imagens que acompanhavam as notícias do atentado exibiam retratos de um Herrhausen com uma aparência artificialmente jovem para os quase 60 anos que ele contaria à data. Quanto à pergunta que o Bild então exibia em primeira página, Warum? (Porquê?), essa ainda hoje está por responder. Nem o porquê, nem o quem, embora a sofisticação de que se revestiu o atentado limitasse substancialmente o campo das pesquisas. Este parece-me ser um daqueles casos em que a ausência de empenho posterior em encontrar uma resposta é, em si, uma resposta, pelo menos uma resposta para aquilo que os responsáveis por tal investigação estariam à espera de encontrar (e que não lhes interessou).

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