28 novembro 2017

A DECLARAÇÃO UNILATERAL DA INDEPENDÊNCIA DE TIMOR LESTE

28 de Novembro de 1975. Com a publicação da imprensa lisboeta suspensa como consequência dos acontecimentos do 25 de Novembro torna-se necessário ir recuperar a imprensa menos convencional as noticias do período que imediatamente se seguiu. No caso, o anúncio da declaração unilateral da independência de Timor Leste por parte da Fretilin há precisamente 42 anos, a fonte é o jornal A Voz do Povo, o órgão oficial da UDP, o único partido da extrema esquerda com representação parlamentar (1 deputado na Assembleia Constituinte).
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MORRE MAIS UMA COLÓNIA!
Nasce a República de Timor-Leste

Contra as tentativas do governo português de prolongar a dominação colonial e contras as invasões e ingerências estrangeiras, mais uma colónia portuguesa se transformou em país independente, mais um povo conquistou, pelas armas, a sua liberdade.
A independência de Timor foi proclamada pela FRETILIN (Frente Revolucionária para a Independência de Timor-Leste) no dia 28 de Novembro . Mas enquanto nasce a República de Timor-Leste tropas indonésias, já numa invasão completamente descarada, tomam Atabae(?), uma localidade situada entre a fronteira com a parte indonésia da ilha e Díli, capital de Timor-Leste. E se isto acontece é porque o que mais enfurece o fascista Suharto (chefe do governo da Indonésia) é o facto do povo de Timor, mesmo desfalcado pelas duras batalhas que tem travado ultimamente, não desistiu da luta e tomar nas suas mãos o seu próprio destino.
A proclamação da independência foi o culminar de uma luta que nos últimos meses o povo de Timor tem travado contra um inimigo militarmente poderoso. Mesmo assim, tem sido a FRETILIN, através das suas forças armadas, as FALINTIL, a fazer recuar todos os ataques e invasões e a assegurar o controle militar do território.
Quando, em Agosto, a UDT decidiu romper unilateralmente o pacto anteriormente estabelecido com a FRETILIN, isso tinha uma razão. E que a ligação cada vez mais profunda que se estava a estabelecer entre a FRETILIN e o povo timorense iria em breve deitar por terra todas as tentativas mais ou menos disfarçadas de neo-colonialismo.
De então para cá, as forças pró-indonésias, assim como o governo de Suharto, têm sido obrigadas a revelar a sua verdadeira face: inimigos do povo timorense, mostrando pelos interesses deste um profundo desprezo.
No entanto, quer o golpe da UDT, em Agosto, quer as sucessivas manobras e agressões militares que se seguiram, tudo tem falhada. Timor respondeu sempre com firmeza, apesar de lutar em condições muito desfavoráveis - eis uma grande lição para os povos de todo o Mundo!
E, quanto ao governo português, responsável até há bem pouco pela administração do território, que fez? Recusando-se a tomar uma posição face à invasão e às interferências estrangeiras, cumpre o papel de colaborante com o neo-colonialismo, discutindo, ora com a Indonésia, ora com a Austrália, o destino de Timor-Leste. Por outro lado não quer reconhecer a independência enquanto fala na ONU, abusivamente, em nome da ex-colónia. É isto que significa na prática, a política de "descolonização" do governo português.
"VOZ DO POVO" saúda a independência de Timor-Leste, tão heroicamente conquistada, ao mesmo tempo apela ao povo português, aliado natural dos povos das ex-colónias, para que manifeste a sua solidariedade através de um apoio concreto à luta deste povo irmão, ainda cercado pelos inimigos.

VIVA TIMOR-LESTE INDEPENDENTE!
O POVO DE TIMOR VENCERÁ!
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Aparecido alguns minutos depois da meia-noite do dia do PREC, este é um dos meus textos favoritos daquele período: não consigo imaginar como se possa retocá-lo para o tornar ainda mais demagógico e inconsequente do que o que está. É uma verdadeira obra-prima dos chorrilhos de disparates ideológicos da língua portuguesa. De autor(es) anónimo(s) do século XX. Na verdade, do ponto de vista diplomático e com a clarividência dos 42 anos entretanto transcorridos, percebe-se hoje que ainda bem para os timorenses que, na ocasião, Portugal nunca tivesse levado esta proclamação unilateral da independência de Timor a sério.

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