28 novembro 2017

COMO - FELIZMENTE - NEM TODA A IGNORÂNCIA PASSA IMPUNE

A primeira história tem mais de dez anos e ocorreu por ocasião de uma audição do então PGR no parlamento. O assunto que a provocou - um tal de Envelope 9 que pareceu assunto grave na altura - já foi, provavelmente como devia, há muito esquecido, mas o que não devia ter sido foi uma das reacções de Souto Moura, quando confrontado com a questão do formato em Excel dos ficheiros que eram alvo da polémica. Como se escrevia então (21 de Janeiro de 2006) numa passagem da notícia no Diário de Notícias :
 
'Nunca vi o programa Excel'
 
Questionado sobre o teor do comunicado da Procuradoria (de sexta-feira, 13), no qual foi dada a garantia de que no Envelope n.º 9 apenas se encontravam dados relativos à facturação detalhada de Paulo Pedroso, Souto Moura afirmou que foi essa a 'informação' que os magistrados do MP que acompanham o julgamento lhe deram no próprio dia. 'Acredito que não houve má-fé', sublinhou.
E disse que tal comunicado foi difundido sem a PGR ter conhecimento de um outro da PT, no qual a empresa, implicitamente, reconhecia o erro dando explicações sobre o funcionamento do programa informático Excel. 'Eu nunca tinha visto um programa Excel', desabafou aos deputados.
O que fica a faltar à descrição - infelizmente perderam-se os vídeos do momento - foi o enfâse dado por aquele alto magistrado à sua ignorância a respeito de um aplicativo informático corriqueiro como o Excel. Por essa vez, as redes sociais, se calhar porque ainda incipientes, não se escandalizaram (como deviam), mas o momento era patético: as pessoas podem ser ignorantes mas fica-lhes sempre mal orgulharem-se dessa ignorância. Mas o que me parece mais desconfortável é como essas manifestações de ignorância, se se referirem a questões técnicas/científicas, não parecem ser depois sancionadas socialmente pela comunicação social - quando elas são, no mínimo, exibição de uma mediocridade auto-congratulatória. Coisa expectável se vindas de um taxista, é muito triste se as virmos exibidas por um procurador geral da República. O que nos leva à segunda história que aqui é contada com um sentido de desforra. A desforra de que nem sempre a ignorância displicentemente confessada sai impune. O episódio (bem recente) ocorreu durante um daqueles programas de comentário futebolístico. Um dos convidados, José Guilherme Aguiar, alegando previamente aquela tradicional ignorância a respeito dos assuntos mais elementares da navegação na net (que continua por sancionar socialmente), resolveu troçar da publicidade associada a um site de um clube rival:
 
- (...) o meu informador, que toda a gente conhece dentro deste programa que é o meu filho, eu pedi-lhe, e ele mandou-me um... um... site, não é? É site que se diz?
- Sim.
- ...de um famoso comentador do Benfica, Hugo qualquer-coisa, não fixei o nome...
- Hugo Gil.
- ...e depois... ah, ah, ah, abri o artigo e depois aparecia a fotografia do... ah, ah, ah... desse senhor que apareceu agora na televisão, esse ex-jornalista, aparecia o princípio da notícia e depois aparecia uma coisa que era publicidade, «você quer acabar com as hemorróidas?», eh, eh, eh, era assim que vinha! E eu digo assim: olha que raio de anúncio é que eles vão pôr!
 
Azar o de José Guilherme Aguiar desconhecer que a publicidade que lhe aparece na sua página, e da qual tanta troça fez, não tem nada a ver com as escolhas do autor do site, mas antes com o seu próprio histórico de navegação... Riu-se muito mas, por ignorância, acabou por ser o próprio José Guilherme Aguiar a - por assim dizer - dar o cu ao manifesto.

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