16 novembro 2017

O CENTENÁRIO DO REGRESSO DE GEORGES CLEMENCEAU AO PODER

16 de Novembro de 1917. Em mais de três anos de guerra, a França já tivera cinco governos. O mais recente, chefiado por Paul Painlevé, durara apenas dois meses. foi nessas circunstâncias complicadas que o presidente da República Raymond Poincaré terá feito a aposta mais arriscada da sua carreira política: convidou o seu inimigo de estimação Georges Clemenceau para formar governo. Num momento de usura moral, em que uma parte da classe política francesa ousava dizer em voz alta que já não se podia contar com a Rússia e que a América chegava demasiado tarde, aquele que era alcunhado na política francesa como o Tigre e que contava então já 76 anos, parecia encarnar a última possibilidade de um sobressalto de energia da França, cimentado no facto dele capitalizar como mais nenhum outro político francês o ideal da desforra contra a Alemanha. Tido como um parlamentar temível, o discurso da posse do seu governo diante da Câmara de Deputados configura um estilo hoje datado, mas que se reconhece ao mesmo tempo pujante e gracioso, apesar dos cem anos em cima. Eis o início:
 
«Meus senhores, nós aceitámos formar governo para conduzir a guerra com um redobrar de esforços tendo em vista a melhoria do rendimento de todas as nossas energias.
Apresentamo-nos diante de vós com o pensamento focado numa guerra integral. Queremos que a confiança que vos pedimos em testemunho seja um acto de confiança em vós próprios, um apelo às virtudes históricas que nos fizeram franceses. Nunca a França sentiu assim tão nitidamente a necessidade de viver e de crescer no ideal de uma força posta ao serviço da consciência humana, na resolução de atribuir cada vez mais direitos aos cidadãos assim como aos povos capazes de se libertarem. Vencer para sermos justos, eis a palavra de ordem de todos os nossos governos depois do princípio da guerra. Este programa a céu aberto, mantê-lo-emos.
Temos grandes soldados de uma grande História, sob chefes que foram experimentados pelos desafios, animados por uma devoção suprema que fez o renome dos seus antepassados. Por eles, por todos nós, a pátria imortal dos homens, dona do orgulho das vitórias, prosseguirá com as mais nobres ambições da paz o que é o curso do seu destino.
Estes franceses que fomos obrigados a lançar na batalha têm direitos sobre nós. Eles querem que nenhum dos nossos pensamentos se esqueça deles, que nenhum dos nossos gestos os não tome em consideração. Devemos-lhes tudo, sem reserva alguma. Tudo pela França que sangra na sua glória. Tudo pela apoteose do direito triunfante. (...)»
 
Nascido de uma fuga para a frente do que parecia um impasse político severo, este governo de Georges Clemenceau, que foi dos seis durante a Grande Guerra, aquele que foi indigitado com uma maioria mais frágil (que os houvera com um apoio unânime da Câmara), irá cumprir a sua missão de sobreviver pelo próximo ano, até ao Armistício de 11 de Novembro de 1918, conferindo a George Clemenceau o estatuto de Pai da Vitória.

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