13 novembro 2017

«BADAMERDA» PARA ESSES «MISTÉRIOS»

13 de Novembro de 1975. Não é o sequestro dos deputados da Assembleia Constituinte que aqui se quer recordar, mas a sua libertação ocorrida precisamente há 42 anos. Estava lá a televisão a cobrir o acontecimento, que nos deixa ver uma fila indiana de deputados humilhados caminhando por um corredor deixado aberto pelos trabalhadores da construção civil (aqui, a partir dos 2:35), como se fosse uma reedição revolucionária das forcas caudinas. A excepção foram os deputados comunistas que se deixaram ficar para o fim. No frame de cima, retirado da reportagem televisiva, vê-se o deputado comunista Dias Lourenço saudando veementemente de punho erguido os sequestradores, precedendo os seus camaradas que exibem uma exuberância solidária semelhante. Se em política o que parece é, a cumplicidade do comunistas com os acontecimentos foi a que foi, ficou a parecer que os parlamentares comunistas só tinham ficado circunstancialmente do lado errado das trincheiras: não estavam eles a celebrar como vitória sua a cena da subjugação dos deputados? Tanto mais que os testemunhos de alguns dos outros sequestrados afirmavam que, à boa maneira de Orwell, o sequestro dos deputados comunistas fora mais igual que o dos deputados das outras bancadas à sua direita, sustentado com uns frangos assados e umas batatas fritas a amenizar o jejum geral por 16 horas que fora imposto ao resto do hemiciclo. Foi essa a percepção da época, uma época em que não se dava o devido valor à gravidade destes acontecimentos, conforme se pode comprovar pela conferência de imprensa que o mesmo sindicato dos trabalhadores da construção civil (que promovera o sequestro) deu, no dia seguinte aos acontecimentos. Nem eles falaram do sequestro, nem, diante das câmaras da televisão, nenhum jornalista terá tido a ousadia de levantar o assunto! E, claro, ainda não havia um Correio da Manhã para anunciar que a mulher do deputado do CDS Oliveira Dias morrera nesse dia 13 de Novembro, aos 46 anos e de doença cardíaca, presumivelmente de atribuir ao que acontecera ao marido...
Terá sido o distanciamento temporal a restituir ao episódio do sequestro dos deputados constituintes a gravidade do que se passara. Quanto mais o tempo passava e os costumes evoluíam, diminuía a condescendência e mais inaceitável se tornava aquilo que sucedera. E o posicionamento equívoco do PCP em todo o episódio mais desconfortável se apresentava. Foi só a partir do Século XXI que eu dei pelos comunistas a quererem sair de fininho de todo o assunto. E a técnica (clássica!) para refazer o que aconteceu é a de criar hipotéticos segredos por revelar, uma história que não está ainda toda contada, um mistério!... Mistério que não parece ser para esclarecer: ainda num recente regresso ao assunto feito pela TVI tanto o ortodoxo Jerónimo de Sousa quanto o heterodoxo Vital Moreira (acima) se conjugaram objectiva e subjectivamente na recusa em prestarem qualquer depoimento. Hoje completam-se 42 anos sobre a data dos acontecimentos e ainda há quem continue a insistir que o papel do PCP no cerco (à Constituinte) está envolto em polémica... Haja quem acredite nesses expedientes argumentativos. Parafraseando Pinheiro de Azevedo: «Badamerda para a (conversa da) polémica

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