20 de Junho de 1951. Em substituição do presidente Óscar Carmona, que falecera a 18 de Abril, a união nacional anunciava naquele dia que se decidira a apresentar a candidatura do general Craveiro Lopes à presidência da República. Sendo as estruturas de poder como eram sob o Estado Novo, isto correspondia à apresentação aos portugueses do nome daquele que viria a ser o seu próximo presidente a partir de 9 de Agosto, data marcada para a tomada de posse do vencedor das eleições de 21 de Julho. A nota que dava conta da decisão era sóbria, como era a prática da época: «O sr. general Francisco Higino Craveiro Lopes, actual comandante da 3ª Região Militar (Tomar) e professor do curso de altos comandos do Instituto de Altos Estudos Militares, anuiu á solicitação que lhe foi feita para aceitar a sua candidatura á Presidência da República. A respectiva proposta, subscrita por dirigentes e filiados da União Nacional e por outros eleitores, vai ser apresentada num dos próximos dias ao Supremo Tribunal de Justiça.» Mais interessante era uma outra nota prévia, que constava do desenvolvimento da notícia no interior do jornal, e que fora emitida quinze dias antes pela presidência do Conselho de Ministros, ou seja, da responsabilidade do todo poderoso António Salazar, que era quem puxava os cordelinhos da sucessão, enquanto assegurava interinamente, por prescrição constitucional, a chefia do Estado. Essa outra nota procurava acalmar as intenções mais arrebatadas dos seus seguidores que queriam que fosse ele, Salazar, a assumir a presidência, um cargo que, porque desprovido de poder executivo, não lhe interessaria nada. A nota de Salazar continha uma passagem que é emblemática do seu estilo literariamente rebuscado* e politicamente cínico: «A verdade é que não tenho já resistência moral nem possivelmente resistência física para recomeçar vida nova e fazer outra magistratura.» Fingindo-se cansado para ser presidente, depois de dezanove anos à frente do governo, o futuro falará pela sinceridade do argumento: Salazar iria manter-se no cargo que lhe interessava por mais dezassete anos.
* «O que temos de fazer é escolher dentre os muitos servidores do mesmo ideal uma pessoa que convenha ao alto exercício da magistratura suprema do Estado, pelas suas qualidades e virtudes, pela dignidade da sua vida, pela compreensão do interesse público e das necessidades da política nacional, pela sua adesão, melhor direi, pela sua integração na ordem de ideias que nos têm inspirado e de cuja realização seja o primeiro garante.»
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