08 junho 2021

A DESCOBERTA DO «ÚLTIMO ELEMENTO QUÍMICO»

8 de Junho de 1931. «O professor dr. Fred Allison, Edgar Murphy, professor R. Bishop e Anna Sommer demonstraram ter encontrado no Laboratório do Instituto Politécnico do Alabama o último elemento químico ainda desconhecido, dos 92 elementos químicos que existem. Como é sabido, segundo o «sistema periódico dos elementos», descoberto na segunda metade do século passado pelo químico russo Mendeleiev, não pode haver mais de 92 elementos químicos. Os elementos dispõem-se em ordens, conforme o seu peso específico, e cada um deles tem um número na série, de acordo com o peso. A maioria dos elementos é já conhecida, mas alguns deles, cujo lugar tinha sido calculado no sistema periódico, só mais tarde foram descobertos. Assim, no ano passado, o professor Allison pôde descobrir o elemento 87, o penúltimo dos elementos conhecidos, e ultimamente descobriu o último elemento desconhecido, que tem o número 85 da série. Este elemento ainda não recebeu nenhum nome.»

O primeiro aspecto interessante desta notícia é aquela passagem que sublinhei. O jornalista escreve o artigo pressupondo que o leitor possui os conhecimentos de química suficientes para saber o que é a tabela periódica. E, no entanto, sabe-se como em 1931 o grau de escolaridade da população era mínimo* quando em comparação com o da actualidade. Porém, o paradoxo é que nenhum jornalista actual se atreveria a escrever um artigo deste mesmo género, sobre a descoberta de novos elementos químicos, com esta mesma desenvoltura de assumir que o leitor (que agora aprende química nos seus anos de escolaridade obrigatória) ainda se lembra de alguma coisa sobre o assunto. Se em 1931 o conhecimento do leitor era obrigatório, em 2021 a sua ignorância é uma espécie de benção («- ...já não me lembro nada disso!»).
O segundo aspecto interessante é a grandiosidade radical do título, como se as Ciências Químicas tivessem chegado ao fim da sua função com a descoberta do «último elemento químico». Faltava-lhe, no entanto, ao jornalista, o distanciamento e a capacidade de antevisão para se aperceber que, para além dos 92 elementos naturais, se poderiam vir a criar elementos artificialmente. Noventa anos passados, o assunto de descobrir o último elemento químico está longe de estar encerrado: até agora foram criados 26 elementos artificiais e o elemento mais pesado que hoje consta da tabela periódica é o 118 - Oganésson.
O terceiro aspecto interessante é mais concreto, e tem a ver com a descoberta propriamente dita: era uma treta. Não fora descoberto o elemento 85, nem anteriormente o havia sido o 87. O método do professor Allison viria a revelar-se um fiasco quando foi testado pelos seus pares. Mais, as descobertas do professor deram o nome a um efeito Allison, um dos exemplos agora clássicos de distorção científica denominada ciência patológica.

Claro que isto foi noventa anos antes de José Gomes Ferreira se dedicar à economia e a tantas outras disciplinas científicas...Vale a pena ouvir a abordagem deste último, para perceber como os tempos mudaram no que diz respeito à divulgação científica:
* Para dar uma ideia, havia 62% de analfabetos em 1930.

3 comentários:

  1. "encostar à esquerda, portanto a estibordo, usando a linguagem náutica...."
    Alguém diga ao ilustre historiador, cartógrafo e nauta, que encostar à esquerda seria a bombordo. Estibordo é o lado direito do navio. Isto ele não viu na net.

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  2. "encostar à esquerda, portanto a estibordo, usando a linguagem náutica"
    O pobre coitado nem sabe que estibordo é o lado direito da embarcação e bombordo o lado esquerdo. Isto também está na net mas o ilustre astrónomo, cartógrafo e nauta não viu.

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  3. Esse exemplo canónico de ignorância, indiciador de que a pessoa em questão nem sabe quando fala de cor, pode ser contraposto à constituição do «Grupo de apoio ao jornalista de economia José Gomes Ferreira», um grupo de facebook que já conta com mais de 40 mil aderentes à data em que escrevo.

    Por outro lado, lembro-me como um dos momentos mais mal desperdiçados por mim ultimamente, os minutos que gastei naquele meio (facebook) em convencer um dos meus «amigos» que o homem (Gomes Ferreira) é um imbecil.

    Como outrora houve revoltas de escravos, a vida recente na net pode ser considerada como uma «revolta» dos estúpidos e ignorantes, «massacrados» durante décadas pela repressão e consequente hierarquização social provocada pelo saber.

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