Reconheça-se: se o critério for o interesse do público as notícias das nomeações de portugueses para as burocracias europeias não valem o papel em que estão impressas. Esta de João Guerra só foi excepção porque o processo de selecção para o cargo foi escabroso, tão escabroso que as explicações governamentais caíram num saco roto de tão falhas de convicção. Consequências políticas não houve, mas isso é apenas o governo de António Costa a apodrecer. Agora o Público prestar-se ao frete de entrevistar o penetra do dia da assumpção do cargo é isso mesmo: um frete. O que é o homem havia de dizer? «De um ponto de vista empírico, não me parece que a Justiça penal seja mais morosa do que é genericamente nos países que partilham a mesma cultura jurídica que nós. Temos até uma Justiça penal mais rápida do que países que olhamos como exemplo.» O que ele nos diz naquela passagem parece ser uma versão reciclada do tradicional provérbio português que «a galinha da vizinha é sempre melhor que a minha». Contudo, considerados e contabilizados os onze anos que mediaram entre o processo que envolveu Armando Vara e a sua prisão ou os sete anos que já leva o processo de José Sócrates, o que se pode concluir da oportunidade desta entrevista é que, de «um ponto de vista empírico», pelo menos este «ponto de vista empírico» do entrevistado não parece nada alinhado com o «ponto de vista empírico» da grande maioria dos portugueses que, por sinal, são aqueles que ele irá representar na Europa, cortesia governamental.
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