22 junho 2021

A ATITUDE ITALIANA A RESPEITO DA OPERAÇÃO BARBARROSSA

Com a invasão alemã da União Soviética, Domingo, 22 de Junho de 1941 foi um dia verdadeiramente histórico. Mais do que isso, foi um dia longamente histórico, porque começou muito cedo, às 03H15 (hora de Berlim e da Europa Central), quando a artilharia alemã abre fogo ao longo da frente que separa as suas posições das do exército vermelho no Leste da Europa. Em Roma, um quarto de hora antes (portanto às 03H00 da manhã!), o principe Otto Christian von Bismarck-Schönhausen havia levado pessoalmente a Benito Mussolini uma longa carta de Adolf Hitler em que este reexplicava as razões e precisava finalmente o momento (agora!) em que se decidira a invadir a Rússia. O Duce, que tanto se abespinhara em privado com desconsiderações bem menores que o Führer tivera para com ele, aceita agora sem mostras de despeito ou ressentimento esta, enorme. Mais, Mussolini toma imediatamente a iniciativa de declarar guerra à União Soviética e anuncia, também de imediato, a disposição de mobilizar um corpo do exército italiano para participar na campanha. Para Mussolini parecer-lhe-ia mais importante fazer agora tudo para causar uma impressão pública que os acontecimentos haviam sido desencadeados em sintonia consigo. No Palácio Chigi* procura cumprir-se as instruções do Duce ainda durante a madrugada, a começar por desencantar o paradeiro do embaixador russo que não se encontra (como de resto quase todo o restante pessoal) na embaixada! Os russos haviam aproveitado o fim de semana e o tempo quente para uma ida à praia e uma estadia à beira-mar! Finalmente, lá encontraram o embaixador Nikolai Gorelkin alojado num hotel, a quem entregaram a convocatória para uma reunião com o conde Ciano, o ministro dos Estrangeiros. A cerimónia, a que os italianos pretendiam conferir alguma solenidade, transformou-se rapidamente numa farsa. Segundo testemunhos, o russo chegou com o ar desenvolto de quem estivera de férias (e estivera), cumprimentou descontraidamente o ministro como se se tratasse de cumprir um pró-forma (e era, como se lê acima, a declaração de guerra já fora anunciada várias horas antes...), e retirou-se rapidamente com o documento na mão, como se tivesse recebido um convite para um jantar de gala. Mas, a notícia que nesse fim de tarde o Diário de Lisboa dava conta a respeito das repercussões que os acontecimentos do dia haviam tido em Itália, não nos dizia nada disto...
 
* À época era a sede do ministério dos Negócios Estrangeiros. Hoje é a sede do conselho de Ministros.   

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